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domingo, novembro 14, 2004

 

Arafat 2

Yasser Araft morreu. Desde o dia seguinte à sua chegada a Paris que circulavam rumores sobre a sua morte cerebral. E, dizem os boatos, se não se anunciava a sua morte, se não se deixou morrer o seu corpo e não se desligavam as máquinas era porque se tornava necessário esperar pela resolução de uma série de problemas que se estava operando nos bastidores. Semelhantes rumores circularam a respeito de Mao Zedong, Tchernenko, Andropov e sem dúvida, algum doido o porá a correr na Internet quando se anunciar o fim da vida de Carol Wotjila.

Um dos problemas em causa era a nomeação do sucessor. Ou, pelos menos, de um candidato a sucessor que se apropria da pole position e se torna o principal alvo das controvérsias, opiniões e balas adversárias.

Também na questão do sucessor, Arafat se aproxima de Mao, Andropov e todos os outros, que tinham em comum o serem ditadores que governavam a coberto de uma máscara de pretensa democracia. Formalmente eles eram eleitos e a sua ascensão e manutenção no Poder era o resultado de uma expressão democrática do sufrágio.

O primeiro problema que põe a substituição de alguém assim é que é necessário seguir uma série de procedimentos formais para entronizar o escolhido. Ora como, por norma, o ditador eterniza-se no Poder em lugar de o abandonar quando a saúde, a idade e o bem senso a isso aconselham. Perante a crise é necessário fazer a correr aquilo que devia demorar mais tempo. E o que é feito a correr é quase sempre atabalhoado. Seria mais simples se tivesse sido atempado ou se não se insistisse na pretensão da democracia. Bem mais expedita, para autocratas, é a formula “Le Roi est mort, Vive le Roi”.

O segundo problema é que o excesso de Poder nas mãos de uma pessoa cria, quando este desaparece, um enorme vazio. E como a Natureza tem horror ao vazio, e mais ainda ao vazio de Poder, esta concentração só serve para agravar um problema já de si complexo. Por vezes, como no caso de Nikita K, a solução é uma troika em que cada um dos actores fica com um (ou vários) dos múltiplos cargos que o desaparecido detinha. Solução temporária que, aliás pareceu vigorar na Autoridade Palestiniana por alguns dias.

O terceiro problema é a ausência de herdeiro confirmado ou um claro número 2. É claro que nem sempre é fácil calçar os sapatos de um líder carismático mas é uma das obrigações desses líderes, quando têm um entendimento democrático do exercício dos ser cargos, de criarem as condições para que os talentos naturais dos outros desabrochem. Muitas vezes o número 1 não o quer. O problema é que os herdeiros “in waiting” muitas vezes se chateiam do “in waiting” e fazem uma tentativa (por vezes sucedida) de tomar o lugar do seu chefe.

Os rumores da sua morte antecipada ou adiada são mais um elemento a acrescentar a outros que nos recordam que Yasser Arafat morre como viveu, um autocrata, um (ex-?) terrorista, inegavelmente um líder carismático, mas não um democrata.

O tamanho das contas bancárias, de um valor capaz de fazer empalidecer o mais empedernido cleptocrata africano (pun intended) e a manipulação da parte da sua esposa do “direito ao cadáver” até ver as suas pretensões financeiras satisfeitas são a enésima confirmação a reforçar o que atrás disse.

Independentemente da opinião pessoal sobre YA a verdade é que a morte de alguém é sempre uma coisa triste. Especialmente quando dolorosa. Para mais quando é acompanhada de um circo politico-mediatico. Todos temos direito a morrer em dignidade.

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