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sábado, novembro 06, 2004

 

Eleicoes americanas 5

A campanha eleitoral americana de 2004 foi, muito provavelmente, das menos interessantes dos últimos anos. Pelo menos foi das que menos me interessou. Admito que, com a idade, estou a perder a capacidade de me deixar arrebatar pelos acontecimentos. Um acontecimento como este, que há alguns anos ter-me-ia interessado em excesso, hoje deixou-me mais frio do que gostaria de admitir. No entanto, digo em minha própria defesa, penso que existem motivos de desinteresse.

A contenda entre Kerry e Bush Jr. reduziu-se a uma interminável série de acusações sobre o Iraque e as personalidades politicas de cada um deles. Principalmente de Bush. De substancial não se discutiu grande coisa. Ou se assim foi eu não dei por isso. Admito que a comunicação social europeia seja em parte culpada pela cobertura que fez. Mas eu também estou demasiado calão para procurar outras de uma forma consistente outras fontes, como teria feito no passado.

Houve um sério debate sobre a rigidez orçamental? Ou sobre o ambiente? A segurança social? A reforma das leis de financiamento politico? Onde estás Al Gore II? Onde estás Hillary Rodham? Onde estás McCain? Por muito que me custe dizer, onde estás Newt?

Houve debate sobre qualquer coisinha para além de que o Presidente é muito duro e o Senador Kerry muito mole? Que diabos, estamos a falar do Presidente da única hiper potencia mundial não de um colchão.

No caso do Iraque, onde é que estavam as grandes diferenças? No fundo a discussão foi sobre a maneira como Kerry teria tratado a crise. Kerry teria falado com os aliados europeus como a França e a Alemanha em vez de se contentar com os cãezinhos de colo Blair e Aznar. Os Democratas acham que isso é ser uma pessoa de consensos e o GOP acha que isso é ser um fraco. Mas para o futuro, qual seria a alternativa? Kerry não iria fazer como Zapatero e retirar as tropas do Iraque, pois não?

No fundo tudo se reduzia a pensar se John Forbes Kerry é estruturalmente uma pessoa melhor talhada para ocupar a Sala Oval que George Warker Bush. O que não deixa de ser a minha opinião pessoal (se fosse americano penso que seria um “registred Democrat”) e acima de tudo uma questão muito valida. E portanto que, um ou outro seria capaz de ter as melhores escolhas nos desafios que se vão por a sua frente nos próximos 4 anos que passa ao leme do Executivo americano.

Mas não podíamos ter já uma preview daquilo que eles concretamente planeavam fazer? Sei lá, por exemplo saber quem é que vão propor para a Corte Suprema. Ou qual a posição sobre os direitos de pesquisa petrolífera no Alaska.

Esta redução das campanhas a discussões sobre políticos em vez de politicas faz parte da estratégia da elegibilidade que tem sido um “drive” da política americana. A haver debate de ideias ele existe nas primárias dos partidos mas o candidato que sai destas é o mais “non committal” possível em vez de ser um honesto e militante “flag bearer”. É uma técnica que evita grandes derrotas mas inibe grandes vitórias.

Veja-se o tamanho das maiorias de eleições verdadeiramente politizadas:
• LBJ ganhou por mais de 20% a Goldwater.
• Nixon idem a Humphrey.
• Reagan ganhou por só por 8% a Carter mas fez uns impressionantes 18% a mais que Mondale.
Foram Presidentes fortes que tinham mandatos claros. Claros quer pelo tamanho da sua maioria quer porque desde o inicio se sabia aquilo que representavam. Criaram ódios e amores mas deixaram marca. O Vietnam (LBJ, Nixon), as relações com a China (Nixon), o abandono do padrão ouro (Nixon), Medicare e Medicaid (LBJ), etc.

E agora o inverso:
• Carter ganhou a Ford por 2%.
• Clinton a Bush Pai por 5% e Doyle por 8% (e aqui ele era o Presidente em cargo).
• George W. Bush ganhou esta 3ª feira por cerca de 3% a John Kerry.

Se qualquer deles (Carter, Clinton ou Bush) ficar para a História será pelas razões erradas (Clinton e o impeachment) ou externas (Bush e o ataque de 9/11, pelo menos a avaliar pelo 1º mandato que do futuro só sabe quem lá esteve) e não pelo seu pensamento original ou “grand vision for América”.

E, sem falar de eleições presidenciais mas continuando a falar da América, porque não relembrar Newt? É verdade que o seu Contracto foi uma montanha que pariu um rato mas desde Reagan que ninguém tinha tido tal impacto no pensamento do GOP. E ele teve só 2 anos, seria seguramente diferente se tivesse um mandato de 4 ou de 8. Pessoalmene digo "Graças a Deus e à Democracia!" mas a verdade é que ele era um politico com impacto e que fez as suas campanhas com posições fortes e tomando riscos.

Mesmo ao risco de perder é preciso não deixar a Política afastar-se da política. Ao risco de se ter mandatos pouco expressivos e se dar só pequenos passos. E se é verdade que vale mais dar pequenos passos na boa direcção que grandes nas más direcções é também verdade que é preciso ter confiança no bom senso do eleitorado e acreditar na justeza dos resultados do sufrágio. Isto se somos crentes na Democracia.

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