terça-feira, novembro 16, 2004
O ecologista céptico e os outros têm ambos razão ou estão ambos errados?
Bjørn Lomborg nasceu em 1965 como eu. As parecenças param aí. O Dr. Lomborg é professor associado de estatística na Universidade de Aarhus na sua Dinamarca natal e em 1998 publicou um livro que causou celeuma chamado “O ecologista céptico”. Publicado como um trabalho científico e em dinamarquês, o livro passou despercebido até que a Cambridge University Press o publicou em inglês em 2001. Neste momento ele tornou-se um nome conhecido mundialmente e as suas teses objecto de controvérsia e disputa por gente de todo os quadrantes.
Com abundantes dados estatísticos ao apoio e uma prosa recheada de siglas e nem sempre fácil (pelo menos na tradução que eu escolhi, uma vez que não leio nem falo dinamarquês – “L’Écologiste Sceptique”, Ed. “Le Cherche Midi”, Collection documents, Paris, 2004, 743 páginas) o Dr. Lomborg questiona uma série de verdades assumidas como boas pelo movimento ecológico mundial. Quase imediatamente hostes sortidas de ecologistas tradicionais acusam o Dr. Lomborg de tudo e mais alguma coisa. De ser pura e simplesmente mentiroso e inventar alguns dados, de ser sequioso de publicidade e oportunista até falta de critérios científicos e de manipular os dados para conseguir “provar” os resultados que queria. No fundo, cada um acusa o outro de mentiroso para assegurar o seu “fundo de comércio”. Independentemente de quem tem razão, e eu não tenho as capacidades cientificas de fazer a destrinça, o Dr. Lomborg levanta algumas questões interessantes.
Vem isto a propósito da recente publicação do relatório “ACIA: Impacts of a Warming Artic: Artic Climate Impact Assessement”, por coincidência (ou talvez não) também publicado pela Cambridge University Press.
A comparação entre os dois documentos não deixa de ser interessante. Vejamos um pequeno exemplo:
• Na página 43 do ACIA existe um belo gráfico que nos mostra uma projecção da parte da Florida que seria eventualmente submersa com uma subida do nível médio do mar de 1 mt.
• Na página 487 do livro de Lomborg, no capitulo “O aquecimento do planeta”, sub capitulo “As consequências: elevação do nível do mar” lê-se: “ … as elevações do nível do mar operar-se-ão gradualmente ao longo do século, as previsões económicas racionais … custo total para a protecção nacional americana e as expropriações para um aumento do nível do mar de 1 metro (mais do dobro do que se espera para 2100) é aproximadamente de 5 a 6 mil milhões de dólares ao longo do século … o quarteirão histórico Art Deco … traz 11 mil milhões de dólares por ano à economia”.
• Outros exemplos podem ser dados. Vejamos um deles. O ACIA é baseado nos cenários B2 e A2 do de entre os 6 cenários clássicos no SRES do IPCC (pagina 126). Lomborg relativiza esta escolha e menciona 40 novos cenários (Pagina 472).
Ambas as aproximações ao problema não são incompatíveis. Se formos positivos dizemos que os ecologistas apontam problemas reais e muito importantes e o Dr. Lomborg posiciona-os numa perspectiva diferente. Se formos negativos dizemos que o ACIA grita “Lobo” e o “Ecologista Céptico” assobia para o ar.
No fundo, e sem validar as conclusões de Lomborg, eu ponho as mesmas 6 perguntas que ele faz relativamente ao aquecimento global:
1. Qual é o impacto do CO2 na temperatura?
2. Existem outras causas para o aumento da temperatura?
3. Os cenários sobre o efeito de estufa são coerentes?
4. Quais são as consequências de um eventual aumento de temperatura?
5. Quais são os custos de uma redução das emissões de CO2 comparando com uma ausência de redução?
6. Como definir as nossas escolhas?
As 4 primeiras questões são puramente científicas. Podemos argumentar, como o faz o nosso dinamarquês, que nem sempre os ecologistas são correctos nas suas analises.
As perguntas 5 e 6, são puramente políticas. Devemo-nos perguntar não só quanto custa não reduzir as emissões de carbono e perder uma série de coisas como a biodiversidade, etc., etc., como quanto é que custa não o fazer. Só assim se pode fazer uma escolha inteligente.
Para mim, a principal vantagem do livro do Dr. Lomborg é explicar que nestes assuntos do ambiente existe uma outra visão. Que as coisas não se dividem entre os poluidores e os ecologistas, mas que, como em quase tudo, existe um balanço a calcular.
A segunda coisa que este livro traz é o questionar as “verdades oficiais”. Aqui, como em tudo o resto, isto é importante.
Confesso que, em termos do desenvolvimento sustentável eu tenho mais duvidas que certezas. E que não me sinto com bagagem cientifica para atacar as minhas duvidas com facilidade. Mas não esqueço que o ser ambientalmente sustentável é só um dos 3 pilares.
Repito: eu não tenho certezas. Parece-me que o ACIA as têm. E para as contrabalançar o “Ecologista Céptico” é um bom livro.
Com abundantes dados estatísticos ao apoio e uma prosa recheada de siglas e nem sempre fácil (pelo menos na tradução que eu escolhi, uma vez que não leio nem falo dinamarquês – “L’Écologiste Sceptique”, Ed. “Le Cherche Midi”, Collection documents, Paris, 2004, 743 páginas) o Dr. Lomborg questiona uma série de verdades assumidas como boas pelo movimento ecológico mundial. Quase imediatamente hostes sortidas de ecologistas tradicionais acusam o Dr. Lomborg de tudo e mais alguma coisa. De ser pura e simplesmente mentiroso e inventar alguns dados, de ser sequioso de publicidade e oportunista até falta de critérios científicos e de manipular os dados para conseguir “provar” os resultados que queria. No fundo, cada um acusa o outro de mentiroso para assegurar o seu “fundo de comércio”. Independentemente de quem tem razão, e eu não tenho as capacidades cientificas de fazer a destrinça, o Dr. Lomborg levanta algumas questões interessantes.
Vem isto a propósito da recente publicação do relatório “ACIA: Impacts of a Warming Artic: Artic Climate Impact Assessement”, por coincidência (ou talvez não) também publicado pela Cambridge University Press.
A comparação entre os dois documentos não deixa de ser interessante. Vejamos um pequeno exemplo:
• Na página 43 do ACIA existe um belo gráfico que nos mostra uma projecção da parte da Florida que seria eventualmente submersa com uma subida do nível médio do mar de 1 mt.
• Na página 487 do livro de Lomborg, no capitulo “O aquecimento do planeta”, sub capitulo “As consequências: elevação do nível do mar” lê-se: “ … as elevações do nível do mar operar-se-ão gradualmente ao longo do século, as previsões económicas racionais … custo total para a protecção nacional americana e as expropriações para um aumento do nível do mar de 1 metro (mais do dobro do que se espera para 2100) é aproximadamente de 5 a 6 mil milhões de dólares ao longo do século … o quarteirão histórico Art Deco … traz 11 mil milhões de dólares por ano à economia”.
• Outros exemplos podem ser dados. Vejamos um deles. O ACIA é baseado nos cenários B2 e A2 do de entre os 6 cenários clássicos no SRES do IPCC (pagina 126). Lomborg relativiza esta escolha e menciona 40 novos cenários (Pagina 472).
Ambas as aproximações ao problema não são incompatíveis. Se formos positivos dizemos que os ecologistas apontam problemas reais e muito importantes e o Dr. Lomborg posiciona-os numa perspectiva diferente. Se formos negativos dizemos que o ACIA grita “Lobo” e o “Ecologista Céptico” assobia para o ar.
No fundo, e sem validar as conclusões de Lomborg, eu ponho as mesmas 6 perguntas que ele faz relativamente ao aquecimento global:
1. Qual é o impacto do CO2 na temperatura?
2. Existem outras causas para o aumento da temperatura?
3. Os cenários sobre o efeito de estufa são coerentes?
4. Quais são as consequências de um eventual aumento de temperatura?
5. Quais são os custos de uma redução das emissões de CO2 comparando com uma ausência de redução?
6. Como definir as nossas escolhas?
As 4 primeiras questões são puramente científicas. Podemos argumentar, como o faz o nosso dinamarquês, que nem sempre os ecologistas são correctos nas suas analises.
As perguntas 5 e 6, são puramente políticas. Devemo-nos perguntar não só quanto custa não reduzir as emissões de carbono e perder uma série de coisas como a biodiversidade, etc., etc., como quanto é que custa não o fazer. Só assim se pode fazer uma escolha inteligente.
Para mim, a principal vantagem do livro do Dr. Lomborg é explicar que nestes assuntos do ambiente existe uma outra visão. Que as coisas não se dividem entre os poluidores e os ecologistas, mas que, como em quase tudo, existe um balanço a calcular.
A segunda coisa que este livro traz é o questionar as “verdades oficiais”. Aqui, como em tudo o resto, isto é importante.
Confesso que, em termos do desenvolvimento sustentável eu tenho mais duvidas que certezas. E que não me sinto com bagagem cientifica para atacar as minhas duvidas com facilidade. Mas não esqueço que o ser ambientalmente sustentável é só um dos 3 pilares.
Repito: eu não tenho certezas. Parece-me que o ACIA as têm. E para as contrabalançar o “Ecologista Céptico” é um bom livro.