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terça-feira, novembro 23, 2004

 

O futuro do passado

Durante o fim-de-semana fui ver “Sky Capatain e o Mundo de Amanhã”. Há anos que não gostava tanto de um mau filme. Porque, não nos deixemos enganar pelo óbvio prazer que o ver nos proporciona, o filme é mau.

Nem a beleza de Angelina Jolie e de G. Paltrow conseguem qualificar a sua prestação neste filme como representar. Isto independentemente de Mz Paltrow, em outros filmes, já ter assinado grandes interpretações. Quando a Angelina Jolie e Jude Law, francamente, não me consigo lembrar de um filme onde tenham ultrapassado a dicção atempada e a o passear das plásticas que, no caso de Angelina Jolie é uma das mais perfeitas do planeta. Talvez “The Bone Collector”.

Para além das medíocres mas cumpridoras performances, este filme conta com processos inovadores ao nível dos efeitos especiais. No entanto, porque estão muito bem feitos, e porque aqui não vimos cenas à la Star Wars até passam ligeiramente despercebidos. Um pouco como em Matrix, só depois de vermos o making of (não vi) é que nos damos conta de como certas cenas foram feitas.

Por último, o enredo é bera, colado com custo e cheio de pontas desapertadas.

O que torna este filme tão extraordinário é a sua ideia. É um filme feito por apaixonados pelo Cinema e para apaixonados pelo Cinema. As piscadelas de olho são muitas: A Guerra do Mundos, Yoda, 007, para citar algumas das que consegui identificar. Seguramente há muitas outras que me passaram despercebidas e ainda outras que não tenho bagagem para reconhecer. É isto uma das razões porque este filme é um tesouro. De 5 em 5 minutos o filme atira para o nosso colo mais uma pedra preciosa, mais uma maneira de dizer que o Cinema é um gosto partilhado e, de cada vez que isso acontece, ficamos a gostar mais e mais deste filme.

Mas o mais importante é o próprio ambiente do filme. Misto de Marlowe e Flash Gordon e o planeta Mongo este file arrasta-nos para os anos 40. Mais concretamente para os anos 40 de um universo alternativo onde ficcionalmente se passam. Desde a Maldição do Escorpião de Jade de Woody Allen que não havia uns anos 40 tão bem postos em cena. Mas estes, até pela cor (quase ausência excepto em Shangrilá) e estética exagerada são mais eficazes desde quase tudo.

Por outro lado a essência do filme também é a do fantástico. Mas um fantástico de série B, de filmes em 31 partes dos anos 20/30. Zarkov e Ming ou Metropolis espreitam bem perto. Nisso, no seu ambiente dark, mas um dark exagerado, ficcional, de cartão, retro quase kitsch e ao mesmo tempo tão eficaz, este filme faz recordar a Gotham do primeiro Batman.

O futuro do passado não é o presente. O futuro do passado é aquilo que eles, no passado, sonharam que o futuro ia ser. É num desses futuros possíveis que este filme se passa. E por isso é impossível alguém como eu deixar de gostar dele. É um objecto raro, como os dodos que brevemente aparecem. Já não existem e hoje são mais míticos que históricos.

Por curiosidade acrescento que, quando saí do cinema, comprei o ultimo Blake & Mortimer. Também aqui estamos em tema, com uns anos 50 que não foram, mas podiam ter sido. Com criadores novos mas fiéis aos sonhos de Jacobs, também aqui estamos num futuro do passado que, para nós, já passou.


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