sábado, novembro 27, 2004
Um aristocrata da Esquerda
Foi hoje a enterrar o Dr. Fernando Valle. Médico, Republicano, Democrata, opositor à repressão, maçon, fundador e Presidente honorário do Partido Socialista era acima de tudo isso (e por causa de tudo isso) um Homem, daqueles à antiga (como é hábito dizer), daqueles com maiúscula.
Fernando Valle deixa um exemplo que nos deve influenciar a todos. Um exemplo de coragem face à Repressão, um exemplo de coerência nos dias difíceis e nos mais alegres, um exemplo de fidelidade aos seus valores mesmo quando isso era duro. Depois de uma vida de combate e conspiração contra o Homem das Botas e o seu sucessor, aos 71 anos, Fernando Valle fez parte dos delegados que em 19 de Abril de 1973, em Bad Munstereifeld, transformaram a Acção Socialista Portuguesa em Partido Socialista. Depois do 25 de Abril "podia ter sido tudo o que quisesse", como muito bem disseram Mário Soares e Manuel Alegre. No entanto nunca quis um cargo ou uma benesse, pretextando sempre que essas deviam ser responsabilidade de mais novos. Não foi Deputado ou Ministro. E poderia ter sido. E deveria ter sido. Mas nunca se esquivou a dar a sua opinião, a fazer campanha, a deslocar-se, a cansar-se. E aqui parecia esquecer essa idade, que na sua humildade, levava a invocar para não aceitar os cargos políticos.
Valle foi também um exemplo dedicação à sua terra. Quem o ouviu falar da "sua serra" com amor e carinho, não pode deixar de sentir uma certa ternura por essas agruras. Ao ouvi-lo sentimos essa "teluridade" que o irmanava ao seu amigo, o também médico, Torga. Até um urbano como eu sente, ao escutar esses documentos, curiosidade e interesse por essas serras do nosso Norte. Aliás os únicos cargos que desempenhou – funções na Comissão Administrativa do seu Município e o de Governador Civil de Coimbra – podem ser interpretados tanto como cumprimento do dever público como do dever para com a "sua terra". Amor à sua terra que se manifestou de muitas outras maneiras, incluindo as melhorias que, com muita luta, conseguiu realizar.
Mas acima de tudo isto, o Dr. Fernando Valle foi um grande Médico. Um Médico de província que não se esquivava a subir e descer a serra, às horas mais incôngruas, para prestar os seus serviços, quantas vezes sem cobrar. Tal como a Comunicação Social tantas vezes tem dito, era um exemplo do João Semana. Até à sua morte, para todos os habitantes de Coja, ele era sempre "o Dr. Fernando". De tal maneira amado pela população que ele serviu por tantos anos que o seu filho septuagenário e médico ele também era tratado pelo "Dr. Fernandinho" por deferência da população para com seu Pai. Se tudo o resto (a acção cívica, a dedicação aos valores da Democracia, a luta em prol do desenvolvimento regional) não existisse, a sua actividade puramente clínica, a sua abnegação e dedicação ao que não era uma profissão mas uma vocação seria suficiente para merecer o nosso Respeito.
Recentemente Fernando Valle esteve sobre os foco dos média. A pretexto dos seus 104 anos, da homenagem que feita em Coimbra a ele e a Emídio Guerreiro, da saída do livro de Fernando Madaíl que tem o mesmo título que esta nota “Um aristocrata da Esquerda”. O que mais me impressionou nas entrevistas que o Dr. Fernando Valle deu não foi a sua vitalidade e vivacidade, ambas espectaculares para uma pessoa da sua idade. O mais impressionante era a sua firma crença no Sonho, na Utopia, no aperfeiçonamento da Sociedade e da Humanidade. Um só desses depoimentos (e houve tantos) chegava para lhe chamar-mos Mestre.
Foi um Homem bom que todos nós perdemos. Saibamos estar à altura do exemplo da sua Vida.
Fernando Valle deixa um exemplo que nos deve influenciar a todos. Um exemplo de coragem face à Repressão, um exemplo de coerência nos dias difíceis e nos mais alegres, um exemplo de fidelidade aos seus valores mesmo quando isso era duro. Depois de uma vida de combate e conspiração contra o Homem das Botas e o seu sucessor, aos 71 anos, Fernando Valle fez parte dos delegados que em 19 de Abril de 1973, em Bad Munstereifeld, transformaram a Acção Socialista Portuguesa em Partido Socialista. Depois do 25 de Abril "podia ter sido tudo o que quisesse", como muito bem disseram Mário Soares e Manuel Alegre. No entanto nunca quis um cargo ou uma benesse, pretextando sempre que essas deviam ser responsabilidade de mais novos. Não foi Deputado ou Ministro. E poderia ter sido. E deveria ter sido. Mas nunca se esquivou a dar a sua opinião, a fazer campanha, a deslocar-se, a cansar-se. E aqui parecia esquecer essa idade, que na sua humildade, levava a invocar para não aceitar os cargos políticos.
Valle foi também um exemplo dedicação à sua terra. Quem o ouviu falar da "sua serra" com amor e carinho, não pode deixar de sentir uma certa ternura por essas agruras. Ao ouvi-lo sentimos essa "teluridade" que o irmanava ao seu amigo, o também médico, Torga. Até um urbano como eu sente, ao escutar esses documentos, curiosidade e interesse por essas serras do nosso Norte. Aliás os únicos cargos que desempenhou – funções na Comissão Administrativa do seu Município e o de Governador Civil de Coimbra – podem ser interpretados tanto como cumprimento do dever público como do dever para com a "sua terra". Amor à sua terra que se manifestou de muitas outras maneiras, incluindo as melhorias que, com muita luta, conseguiu realizar.
Mas acima de tudo isto, o Dr. Fernando Valle foi um grande Médico. Um Médico de província que não se esquivava a subir e descer a serra, às horas mais incôngruas, para prestar os seus serviços, quantas vezes sem cobrar. Tal como a Comunicação Social tantas vezes tem dito, era um exemplo do João Semana. Até à sua morte, para todos os habitantes de Coja, ele era sempre "o Dr. Fernando". De tal maneira amado pela população que ele serviu por tantos anos que o seu filho septuagenário e médico ele também era tratado pelo "Dr. Fernandinho" por deferência da população para com seu Pai. Se tudo o resto (a acção cívica, a dedicação aos valores da Democracia, a luta em prol do desenvolvimento regional) não existisse, a sua actividade puramente clínica, a sua abnegação e dedicação ao que não era uma profissão mas uma vocação seria suficiente para merecer o nosso Respeito.
Recentemente Fernando Valle esteve sobre os foco dos média. A pretexto dos seus 104 anos, da homenagem que feita em Coimbra a ele e a Emídio Guerreiro, da saída do livro de Fernando Madaíl que tem o mesmo título que esta nota “Um aristocrata da Esquerda”. O que mais me impressionou nas entrevistas que o Dr. Fernando Valle deu não foi a sua vitalidade e vivacidade, ambas espectaculares para uma pessoa da sua idade. O mais impressionante era a sua firma crença no Sonho, na Utopia, no aperfeiçonamento da Sociedade e da Humanidade. Um só desses depoimentos (e houve tantos) chegava para lhe chamar-mos Mestre.
Foi um Homem bom que todos nós perdemos. Saibamos estar à altura do exemplo da sua Vida.