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sábado, dezembro 04, 2004

 

Publicidade

Aqui há atrasado apareceram duas campanhas de publicidade que, cada uma a seu modo, não só me chocaram como, penso, violavam as regras de boa cidadania.

A primeira é a publicidade a uma cerveja preta. Sobre o tema genérico de “O humor negro é só para alguns” seguiam-se uma série de anedotas de maior ou menor gosto sobre cadáveres, mortos, etc.

A segunda campanha a que me refiro é de uma marca de gelados que fazendo trocadilhos com provérbios tradicionais prometia viagens a estancias de Inverno a quem participasse na promoção.

Onde os problemas começavam para mim era:
• Numa das anedotas que era sobre pessoas com deficiências.
• Num dos outdoors onde se fazia um trocadilho com o dito “Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé”.

O meu problema é que não gostei de ver outdoors com piadas com deficientes ou com figuras religiosas. Não é que eu não me ria ou sequer que não as conte. Conto com certeza e acho mesmo alguma piada. Mas faço-o no meu espaço privado, com os amigos e a família. Não faz de mim uma boa pessoa, nem sequer um tipo cómico. Mas pronto, só me afecta a mim ou aos desgraçados que me ouvem.

Quando isso se passa no espaço público eu acho mais criticável. Não é somente hipocrisia, é pura e simplesmente boa educação. Note-se que não estou a defender que essas campanhas deviam ser proibidas, porque isso viola a mais sacrossanta das Liberdades – a de Expressão.

Nem sequer a fazer a apologia de um espaço público asséptico e politicamente correcto. Acontece que atacar uma minoria é um papel para políticos, grupos extremistas e humoristas. Todo o humor é cruel porque é às custas de alguém. Metades dos radicalismos são identitários e fazem-se por exclusão (e ataque) do outro. Por muito que isso me revolte (nos casos das politicas do ódio) ou me divirta (no caso de alguns humoristas) eu continuarei a achar que está mal, mas que é o direito deles e a bater-me por isso. E a considerar isso como mais ou menos normal e a não me incomodar muito.

Mas uma campanha publicitária não se destina a fazer rir, ganhar votos ou instigar ódios. Uma campanha publicitária destina-se a vender e fazer ganhar dinheiro. Por isso tende a ser ideologicamente asséptica e politicamente correcta. As campanhas de Olivero para a Benetton e outras do mesmo calibre são as excepções que confirmam a regra. Mas aqui estamos longe desse brilhantismo.

Eu penso que o facto que os criativos e os executivos das campanhas em causa, nem sequer consideraram que poderia ser errado fazer humor com esses assuntos. E aqui é que a coisa se complica porque isso faz com que essas campanhas sejam sintomas de mau gosto ou de vontade de ofender para se tornarem símbolo de uma sociedade ainda pouco desperta para as minorias que estão no seu seio. Por isso essas campanhas me deixaram triste.

Aqui, como em muitos outros exemplos faltou sensibilidade para a dimensão pedagógica de tudo o que fazemos em sociedade. Esta é, sem dúvida, uma das mais importantes e mais negligenciadas dimensões da nossa vida no espaço público e mesmo no privado.

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