.comment-link {margin-left:.6em;}

segunda-feira, janeiro 17, 2005

 

As partidas que nos prega a idade

Sábado fui ao Teatro Estudio Mario Viegas ver "A Casa da Boneca". Eu já tinha visto peça duas vezes. A primeira no final dos anos 80/inicio da década seguinte com as interpretações de Natalia Luiza e Antonio Rama. A segunda em televisão e da qual retive poucos detalhes, provando a minha ideia que o Teatro é uma linguagem de cena e que a linguagem dos ecrans é diferente.

Da trama e dos personagens recordava quase todos os detalhes: a tarantela de Nora Helmer, o paternalismo de Torvald, da relação passada de Christine Linde e Nils Krogstad, a falsificação da assinatura, "o papá" morto, etc. Recordo Nora como uma mulher forte que parece não o ser para agradar à sociedade e por facilidade. Na sua força interior tão semelhante a Hedda Gabler e uma espécie de anti-Blanche DuBois; se bem que, exteriormente e comportamentalmente, possam haver pontos de encontro. O "Eu não aceito a ajuda de estranhos" que Nora diz na sua cena final é, na minha imodesta opinião, uma antitese à célebre "I always depend upon the kindness of strangers" e, cada uma à sua maenira, ilustram duas maneiras de estar na vida que hoje co-existem. O que é quase revolucionario é que, quando Ibsen escreveu a sua peça, não deviam existiriam muitos exemplos de mulheres como Nora (a Nora do final, a Nora que decide ser autonoma).

É por isso que a partida que me pregou a minha memória é assuatadora ou interessante, depende de como se a encarar. Eu não tinha qualquer recordação do Dr. Rank. Este médico à beira da morte que hoje me pareceu dos personagens mais simpaticos e com os quais posso desenvolver maior empatia tinha desaparecido completamente das minha recordações. Mesmo a sua cena com Nora, tão importante para a definição junto do espectador do caracter desta, tinha sido apagada. Será porque há 15 anso atraz a morte me parecia bem mais distante? Sera que, ao envelhecer e ao ver morrer pessoas que me são proximas e queridas, eu compreeendo melhor um personagem que está preocupado com a Morte enquanto dos outros estão preocupados com o dia-a-dia? Seja lá porque razão for, a coisa é interesante.

O Espresso deste fim de semana traz uma competente critica à produção que a Companhia Teatral do Chiado leva actualmente à cena. Acertada a critica sobre a transposição da peça para os nossos dias onde pouco sentido faz "ir para o Sul para repousar", coser bainhas de saias na antevespera de Natal ou dançar a para entrever os convidados. Pouco posso acrescentar ao texto que, infelizmente, não vem assinado. Uma linha só para acrescentar que o espetáculo vale a pena. Não só o texto é soberbo mas o resto é, genericamente, positivo.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?