.comment-link {margin-left:.6em;}

quinta-feira, março 17, 2005

 

Vitorino e Delors, sebastianismos

Numa entrevista dada a Anne Sinclair na TF1, em 11 de Dezembro de 1994, Jacques Delors anunciou que não se iria candidatar ao Eliseu para substituir François Miterrand. Num ápice a Esquerda ficou sem o candidato esperado e anunciado. Lionel Jospin avançou e portou-se muito decentemente na 2ª volta contra um Chirac que se tinha desembaraçado de Edouard Balaldur numa 1ª volta que foram as primarias da Direita.

Eu recordo essa entrevista numa única frase: “eu não concorro porque só não tenho a certeza de ganhar e só jogo para ganhar”. Estou seguramente a ser injusto. Dirão que sou um idiota, que falo mal francês, que não percebi nada de nada. Seja. Mas essa é a minha recordação de uma entrevista que assisti em directo, colado ao televisor como toda a Esquerda e uma boa parte da Direita estava.

Delors é um grande da Esquerda. Foi um dos melhores ministros das Finanças e do Orçamento de Miterrand. Não é um socialista mas antes um social democrata vindo dos movimentos sociais católicos. Foi uma personagem impar na construção europeia. Foi o primeiro e, até agora único, presidente da Comissão a cumprir dois mandatos. Arquitectou o Euro, Maastrich, Schengen e lançou as fundações para a União de hoje. Elevou a função de tal maneira que, depois dele, ela só foi confiada a ex-Primeiros.

Mas nunca “foi à luta” eleitoral. Recordo que ele ganhou as primeiras eleições para deputado europeu por voto directo mas não recordo mais nenhuma vitoria eleitoral. Não recordo que ele fosse um homem de comícios, um tribuno, um natural born lider carismático.

Delors é um intelecto de peso. Capaz de pensar e fazer grandes coisas. Mas recolhido no seu gabinete. Talhado para ser uma segunda figura de enorme peso mas nunca ascendeu ao primeiro lugar. Foi sempre um subalterno de peso ou numero um por nomeação não por eleição. E ganhou, assim, um invejável lugar na Historia. Mas nunca liderou o Hexágono.

Vitorino será muito bom como Alto Comissário para os Refugiados. Estou certo e seguro. Ou qualquer outro alto cargo onde não esteja sujeito a ser julgado por pessoas comuns, por exemplo em eleições. Como foi um dos mais aclamados Comissários da Comissão Prodi, onde foi avaliado essencialmente por especialistas dos assuntos que geriu. E um dia terá oportunidade de ser Presidente da Comissão (desde que a “regra” dos ex-Primeiros seja quebrada) ou Secretario Geral da Nato, ou da UN. E fará um excelente trabalho em qualquer destes cargos, onde o seu inegável intelecto possa espraiar-se livremente sem ser tolhido pela falta de coragem politica de enfrentar a validação do sufrágio que, aparentemente, o caracteriza.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?