.comment-link {margin-left:.6em;}

terça-feira, novembro 30, 2004

 

As aventuras e desventuras da Familia Parr

Sejamos claros, não são soundbites como "Edna Mode...and guest" ou um estafado "Milan Dahling" que vão tornar este filme memorável. E Edna E. Mode é a unica personagme com piada em todo o filme.

Num esforço para ser tudo-para-todos The Incredibles consegue não ser nada para ninguém. Os adultos acabam chateados ao fim dos primeiros 45 minutos de um enredo que veio directo de uma qualquer tarde de Nickelodeon. É que um episódio das aventuras dee Quick Draw McGraw ou de Peter Parker não ultrapassa os 10 minutos por duas excelentes razões: capacidade de concentração e não se conseguir fazer durar um enredo cretino mais do que o seu limite. Que no melhor dos casos é um quarto de hora.

Quanto aos pimpolhos, eu fui ver o filme na sessão da meia noite do Colombo, na sala não havia nenhum, não sei como reagem. Mas não acredito que achem piada às desventuras profissionais de Bob Parr ou as ciúmes da Missus.

Resumindo: o filme tem cenas demasiados crescidas para os putos, um enredo demasiado puto para os crescidos, personagens completamente nulas e 20 minutos a mais.

Fora isso, eu sté gostei. Mas eu sou capaz de ver desenhos animados durante horas seguidas. Mas não fiquei fan, nem lá perto.

 

Os JO em Lx?

O fim de semana voltou a trazer para o primeiro plano as especulações a propósito da CML e o COP iniciarem o processo de candidatura de Lisboa a cidade anfitriã de uns próximos Jogos Olímpicos.

Como alfacinha tenho dúvidas sobre a bondade da ideia. Em primeiro lugar acho que ela é extremamente positiva porque vai dá uma enorme visibilidade à minha Cidade.

No entanto, não tenho a certeza que precisemos da confusão associada à preparação ou do aumento do preço do m2 e do nível de vida, que depois já não volta a descer.

É um assunto sobre o qual ainda vamos ouvir falar e sobre o qual as nossas posições individuais vão ter que ser definidas com bom senso e sem precipitações.

A propósito, nem imaginam como é grande a vontade de perguntar se isto é a next big thing que a estónia falava ao Gordo?

segunda-feira, novembro 29, 2004

 

A tentação e a vertigem da actualidade do blogista

É evidente que a demissão do Ministro do Desporto ao fim de 4 dias da tomada de posse foi o acontecimento do fim de semana. Acho que acabou de ser batido o record de Carlos de Brito como Ministro da Defesa de um dos Governos do Professor Cavaco. As razões apresentadas são uma punhalada nas costas do Primeiro Ministro é de um nunca visto desde que “os críticos” (dos quais o inenarrável Dr. Lopes era um dos mais activos) espetavam autênticos sabres nas costas de Francisco Pinto Balsemão e mais tarde de Carlos Mota Pinto.

Mas há outras coisas que não devemos deixar passar sem uma referência. A saber:
• A trágica de morte de mais um adepto de futebol. Para quando segurança à altura e comportamentos adultos?
• O funeral de Fernando Valle, a quem já prestei a minha sentida homenagem.
• Os Congressos do PCP e da francesa UMP de que também já falei.
• As evoluções da Ucrânia, que não sei se considerar animadoras – o Parlamento, os dois candidatos e o actual Presidente aprecem concordar em repetir a 2ª volta – ou funestas – há governadores regionais que ameaçam com o separatismo e alguns lideres da oposição começaram a fazer ultimatos ao Presidente e apelos às Forças Armadas.
• Num movimento semelhante aos governadores ucranianos, Afonso Dhlakama o líder da Renamo ameaça com o separatismo se não gostar do resultado das eleições a ocorrer na semana que agora começa.
• Houve eleições na Roménia e os sociais democratas actualmente no poder são dados como favoritos. O actual PM deve ficar à frente nas eleições presidenciais mas o resultado só deve ser conhecido depois da 2ª volta.
• O Presidente Bush telefonou a Gerry Adams oferecendo-se come mediador no conflito do Ulster. Independentemente do sucesso da iniciativa ou da nossa opinião pessoal sobre o real empenho do inquilino de 1800 Penn. Av. na resolução da questão da Irlanda do Norte, o simples facto de ele se ter dado ao trabalho de falar com o líder do Sinn Fein é significativo e representa uma mudança da politica da actual Administração ao longo dos seus primeiros 4 anos. Significativo é também a escolha do interlocutor.
• A classificação do Governo como um bebé numa incubadora que foi feita pelo inenarrável Pedro Santana Lopes.

E pronto, eis um apanhado do fim de semana, como se pede a quem quer ser um competente bloguista. Safa que isto dá mais trabalho do que eu pensava.

 

Sarko

Ensombrado pelo débâcle do Governo, do qual a demissão de Henrique Chaves não é origem mas sim sintoma, e pela derrota em Leiria do Glorioso alguns outros pontos não tiveram a atenção merecida.

Nicolas Sarkozy foi sufragado em Congresso da UMP. Toma a Presidência do Partido das mãos de Juppé. O que é, em valor absoluto, uma demoção de Bercy. Sarko ainda não ganhou o Eliseu. Nem sequer a nomeação. Mas este é, sem dúvida, o primeiro passo da corrida oficial. No entanto o resultado não é certo.
Agora, a coragem do gambito merece o nosso aplauso e denota mais cojones que muitos dos políticos do nosso País, do País dele e de qualquer outro País cuja Politica eu conheça.

Só por si Sarko e a sua luta com Chichi pela oportunidade de ser nas próximas presidenciais o paladino da Direita é interessante. Aliás o percurso de Sarko e da sua Cécilia é interessante. Assim como o são ambos protagonistas. Mas, por enquanto, têm uma valência hexagonal e não merecem aos olhos lusos mais atenção do que qualquer outro player de primeira grandeza nesta nossa Europa a 25.

Pessoalmente eu interesso-me pelo assunto mas confesso que, sendo francófono e francófilo, não faço texto. O que torna interessante a evolução dos debates intestinos da Direita francesa é o facto de que, neste momento, a política francesa é interessante. Em muitos aspectos – véu/laicidade/integração/relação com o Islão, debate sobre a Europa (atenção ao referendo interno no PS na próxima 4ª feira), luta geracional pelo poder, modelo social – a França hoje pressagia o resto de uma parte da Europa de amanhã. Por isso, hoje, a França é um País politicamente interessante e portanto Nicolas Sarkozy é, cada vez mais, uma estrela a prestar atenção.

domingo, novembro 28, 2004

 

O (des)Governo de PSL 3

Escrevi esta madrugada que faltava nomear um Secretário de Estado precisamente do Ministério chefiado por Henrique Chaves. E na altura disse que todo o recente processo de remodelação era um surreal sintoma de um governo com um percurso errático. Mal podia advinhar eu, como estava longe da verdade. Mas pecando por defeito não por excesso.

No meio desta chuvosa tarde o Ministro demite-se alegando falta de "lealdade entre as pessoas", "falta de estabilidade e coordenação" e acusando o Primeiro-Ministro de "grave inversão dos valores da lealdade e verdade". E isto vindo de um santanista. Com franqueza, com amigos destes Pedro Santana Lopes não precisa de inimigos.

O Primeiro-Ministro encontrado a fazer uma inauguração e, debaixo dos apupos da população por causa das portagens, não comenta refugiando-se numa tenda que talvez o proteja da chuva mas não o protege das críticas. O inenarrável Dr. Lopes remodela no dia seguinte a ir à RTP 1 dizer que está contente do seu Governo e perde um ministro depois de dizer aos microfones, numa clara resposta ao artigo de Aníbal Cavaco Silva no Expresso de ontem, que tem muito orgulho no Executivo que integra.

Como disse anteriormente será que Jorge Sampaio já está arrependido de ter dado o seu aval ao inenarrável Dr. Lopes?

Senhor, Senhor, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem.

 

O (des)Governo de PSL 2

Tanto quanto eu percebi, e admito que posso estar enganado, o Governo não está completo. Após a remodelação apressada desta semana falta a tomada de posse do Secretário de Estado da Reabilitação. É que, quando muda o Ministro responsável por um departamento, os Secretários de Estado que dependem dele, também mudam. Assim sendo, mesmo que seja a mesma pessoa que fica com a pasta, ela tem que tomar posse outra vez. Pode parecer uma chinesice mas é assim mesmo.

Disseram-me que o aconteceu é que esta remodelação foi preparada à pressa e quando os Secretários de Estado foram chamados para tomar posse, este estava na estrada a caminho do Porto e impossibilitado de chegar à cerimónia a tempo. Será verdade?

disse que a perca de 2 Secretários de Estado há duas semanas era descuido. A mudança de cadeiras dos Ministros, que ocorreu esta semana é no limite do surreal. Afinal o inenarrável Pedro Santana Lopes tinha ido à RTP 1 dizer que tudo estava bem e que ele estava contente com o seu Governo no dia anterior.

A Comunicação Social diz que foi o Presidente Sampaio que impoz esta mudança de cadeiras. Será verdade?

Eu sei que, sendo de Esquerda e posicionando-me na oposição à coligação chefiada pelo Dr. Paulo Portas e pelo Dr. Bagão Felix, é natural que critique este Governo. Mas, olhando bem para o desrespeito pelas normas estabelecidas que os caracteriza, olhando para a errática actuação que tem sido a sua, uma pergunta se impõe. Este Governo será verdade?

 

O Congresso Comunista

O Comité Central do PCP foi eleito, pela primeira vez, por voto secreto. Os 45 votos contra e 24 abstenções nem sequer se podem considerar espectaculares quando comparados com os mil e tal votos a favor. Segue-se a previsível nomeação de Jerónimo de Sousa com Secretário Geral.

O comunismo português segue igual a ele mesmo. Sem evoluções ou renovações. Sobre o que tenho sentimentos ambivalentes.

Não sou comunista. Nunca fui comunista. Nunca serei comunista. Não considero os comunistas portugueses democratas. E fora da Democracia não há diálogo possível, seja-se de Esquerda ou não. O PCP nunca fez a sua autocrítica. Nunca fez o seu aggiornamento. Nunca fez o mesmo trajecto que a DS italiana. Nem sequer o do PCF. O PCP não é um candidato a uma gauche plurielle e eu nunca me senti confortável com as coligações alfacinhas. Por isso eu sinto simpatia intelectual pelos reformadores pela hipótese de ganharem terreno para as suas teses.

Por outro lado, ser comunista é acreditar no centralismo democrático, na luta de classes, no marxismo-leninismo como Cunhal recordou. Ser comunista português é manter a fidelidade a um ideário e a uma história da qual pouco se podem orgulhar mas que brilha alto iluminada pela prisão e perseguição de muitos heróis anónimos durante a repressão. Ser comunista é isso, e só lhes sobra renegar, persistir ou morrer. Não há lugar para o aggiornamento. Se renegam aquilo que faz deles comunistas, então tornem-se socialistas ou bloquistas ou PSDs como a Zita Seabra e deixem o PCP aos outros. Até que, tal como o analfabetismo, ele morra pela morte natural das suas envelhecidas hostes.

sábado, novembro 27, 2004

 

Tenhamos medo, tenhamos muito medo...

Esta nota é quase sem comentários. O seguinte dialogo está reportado na internet como sendo verdaeirdo.
You're not such a scary guy. - Tour guide at Clinton Library to Karl Rove
Yes, I am. I change Constitutions. I put churches in schools. - Rove's reply
É por estas e por outras que nós, os da Esquerda somos umas bestas quando assobiamos para o ar e não percebemos que, como dizia o PSF nos finais de oitenta e cito de memória:
Au secours la droite revient!

Sem baixar os braços, sempre sem baixar os braços, tenhamos medo, tenhamos muito medo...


 

Um aristocrata da Esquerda

Foi hoje a enterrar o Dr. Fernando Valle. Médico, Republicano, Democrata, opositor à repressão, maçon, fundador e Presidente honorário do Partido Socialista era acima de tudo isso (e por causa de tudo isso) um Homem, daqueles à antiga (como é hábito dizer), daqueles com maiúscula.

Fernando Valle deixa um exemplo que nos deve influenciar a todos. Um exemplo de coragem face à Repressão, um exemplo de coerência nos dias difíceis e nos mais alegres, um exemplo de fidelidade aos seus valores mesmo quando isso era duro. Depois de uma vida de combate e conspiração contra o Homem das Botas e o seu sucessor, aos 71 anos, Fernando Valle fez parte dos delegados que em 19 de Abril de 1973, em Bad Munstereifeld, transformaram a Acção Socialista Portuguesa em Partido Socialista. Depois do 25 de Abril "podia ter sido tudo o que quisesse", como muito bem disseram Mário Soares e Manuel Alegre. No entanto nunca quis um cargo ou uma benesse, pretextando sempre que essas deviam ser responsabilidade de mais novos. Não foi Deputado ou Ministro. E poderia ter sido. E deveria ter sido. Mas nunca se esquivou a dar a sua opinião, a fazer campanha, a deslocar-se, a cansar-se. E aqui parecia esquecer essa idade, que na sua humildade, levava a invocar para não aceitar os cargos políticos.

Valle foi também um exemplo dedicação à sua terra. Quem o ouviu falar da "sua serra" com amor e carinho, não pode deixar de sentir uma certa ternura por essas agruras. Ao ouvi-lo sentimos essa "teluridade" que o irmanava ao seu amigo, o também médico, Torga. Até um urbano como eu sente, ao escutar esses documentos, curiosidade e interesse por essas serras do nosso Norte. Aliás os únicos cargos que desempenhou – funções na Comissão Administrativa do seu Município e o de Governador Civil de Coimbra – podem ser interpretados tanto como cumprimento do dever público como do dever para com a "sua terra". Amor à sua terra que se manifestou de muitas outras maneiras, incluindo as melhorias que, com muita luta, conseguiu realizar.

Mas acima de tudo isto, o Dr. Fernando Valle foi um grande Médico. Um Médico de província que não se esquivava a subir e descer a serra, às horas mais incôngruas, para prestar os seus serviços, quantas vezes sem cobrar. Tal como a Comunicação Social tantas vezes tem dito, era um exemplo do João Semana. Até à sua morte, para todos os habitantes de Coja, ele era sempre "o Dr. Fernando". De tal maneira amado pela população que ele serviu por tantos anos que o seu filho septuagenário e médico ele também era tratado pelo "Dr. Fernandinho" por deferência da população para com seu Pai. Se tudo o resto (a acção cívica, a dedicação aos valores da Democracia, a luta em prol do desenvolvimento regional) não existisse, a sua actividade puramente clínica, a sua abnegação e dedicação ao que não era uma profissão mas uma vocação seria suficiente para merecer o nosso Respeito.

Recentemente Fernando Valle esteve sobre os foco dos média. A pretexto dos seus 104 anos, da homenagem que feita em Coimbra a ele e a Emídio Guerreiro, da saída do livro de Fernando Madaíl que tem o mesmo título que esta nota “Um aristocrata da Esquerda”. O que mais me impressionou nas entrevistas que o Dr. Fernando Valle deu não foi a sua vitalidade e vivacidade, ambas espectaculares para uma pessoa da sua idade. O mais impressionante era a sua firma crença no Sonho, na Utopia, no aperfeiçonamento da Sociedade e da Humanidade. Um só desses depoimentos (e houve tantos) chegava para lhe chamar-mos Mestre.

Foi um Homem bom que todos nós perdemos. Saibamos estar à altura do exemplo da sua Vida.

sexta-feira, novembro 26, 2004

 

A independência do espírito

Introdução
“Somos verdadeiramente livres?”, “É urgente lutarmos contra o pensamento único”, “Fulano, espelhando os seus preconceitos, expressou a sua opinião …”, etc., etc.

Todas estas frases são comummente ouvidas entre nós e espelham a crenças de que não vivemos “em perfeita liberdade intelectual”. Insinuando, antes implicando, que existem “forças” que influenciam o sentido do pensamento.

O que é, absolutamente verdade. Eu acredito firmemente que o nosso pensamento sofre vários tipos de influências das quais não nos damos contas quando emitimos uma opinião sobre qualquer assunto.

E estas influências exercem-se seja nas questões meramente de actualidade, as questões de princípio, as de sociedade e de Vida e mesmo as profundamente filosóficas.

Primeira categoria de dependências
Em primeiro lugar existem as forças externas, sejam elas organizadas ou não, que manipulam o sentido do nosso pensamento pela escamoteação de factos relevantes e pela selecção dos importantes. Não interessa agora discutir se a escolha reflecte o sentimento profundo do editor e dos jornalistas, se é imposta pela direcção ou pelo conselho de administração ou se, como pretendem os fanáticos da teoria da conspiração, é influenciada por uma qualquer organização secreta. Ou ainda pelo suborno dado ao jornalista ou simplesmente porque ele ou ela querem dar uma queca com o relações públicas de determinada empresa/lobby/partido. Porque mesmo que seja o mais honesto e independente dos chefes de redacção de qualquer órgão de comunicação, aquilo que nos recebemos foi sempre filtrado pelo seu critério jornalístico. Ou seja, foi sempre uma escolha de um espírito que, ele próprio é influenciado.

Dentro destas forças externas, existe ainda a nossa rotina diária, os filhos, os chefes, os colegas, os clientes, etc. que nos consomem tempo e neurónios em quantidades massivas reduzindo a nossa paciência e vitalidade intelectual para analisar qualquer tema com a devida profundidade. Somos portanto obrigados a confiar naquilo que outros preparam para nós na grande maioria dos casos. Podemos escolher um ou dois assuntos sobre os quais nos debruçamos com tempo, que estudamos em profundidade e sobre os quais reflectimos empenhadamente; sobre tudo o resto – desde a Trindade até ao direito dos homossexuais a contraírem matrimónio, das próximas eleições ao sentido da Vida – temos que navegar à vista.

Para contrariar essas forças, e porque não faz sentido isolarmo-nos da actualidade nem podemos absorver tudo directamente, a única hipótese é escolher as fontes de informação que nos parecem mais eficazes, mais isentas e mais próximas da nossa maneira de ver o Mundo. Como era mais fácil o Mundo de certezas feitas da Idade Média em que não havia Grandes Perguntas – porquê Auschvitz?, quais os limites da teoria do conhecimento?, o tempo é curvo? – e a actualidade estava limitada à vivência diária na nossa aldeia.

Segunda categoria de dependências
Em segundo lugar existem as fidelidades escolhidas ou não. Essas fidelidades vêm do facto que nenhum de nós é uma ilha e portanto temos filiações diversas – em partidos, clubes de futebol, na empresa que é a nossa empregadora, no(s) nosso(s) circulo(s) de amigos, etc. – e temos atributos diversos e próprios – temos a nossa cidadania, a nossa família, o nosso género, a nossa cor de pele, etc.

Assim sendo, é provavelmente errado que, numa discussão que envolva o Direito de Família ou, mais prosaicamente, a separação de um casal nosso conhecido, eu seja influenciado pelo facto de que sou um homem e, naturalmente as minhas inclinações são no sentido de alinhar pelas posições que favoreçam mais o meu sexo. Poder ser errado mas é quase inevitável. No entanto faz todo o sentido que eu lute contra essa tendência natural.

Caso diferente é aquele das filiações escolhidas. Como por exemplo o SLB, ou a religião, ou ainda, no exemplo do divórcio referido acima, a minha amizade por um dos esposos. Quando analiso um problema qualquer em que isso possa ser um factor eu devo ou não tomar em conta os meus sentimentos pessoais? Do meu ponto de vista sim, mas somente para desempate. Ou seja, se pela análise dos dados perante mim postos eu tenho informação suficiente para formar uma conclusão em total independência essa deve ser a minha escolha. Se me faltam dados é natural que alinhe por aquele que é o meu grupo de pertença – os benfiquistas, ou que seguem a mesma Religião que eu, os amigos de Alex. Isto porque pertencer a um grupo é precisamente isso, é também tomar partido pelo grupo.

O Homem é um animal gregário. Tende a juntar-se em grupos que podem ser determinados pelos acidentes do seu nascimento ou pelas suas opções de adulto. Mas o preço a pagar por não ter suseranidades e vassalagens é, uma vez mais, viver em num magnífico isolamento que nos garante o moral upper ground dos indiferentes. Vale a pena viver assim? Sem nos molharmos? Sem tomarmos posição? Só para podermos dizer aos outros que somos melhores que eles? Mas não temos o dever (mais que o direito) de afirmar as nossas posições, de as difundir o mais possível, de lutar por elas? Se verdadeiramente cremos, inegavelmente sim. Claro que isto não é desculpa para revisitarmos a Historia ou escamotearmos factos.

Duas notas a propósito das filiações escolhidas:
• Em honestidade elas exigem um permanente questionamento. É necessário por sempre à prova a questão se estamos no grupo certo e se, nos assuntos que estudamos (e é necessário que eles existam) estamos de acordo com a linha seguida pelo nosso grupo. Só assim podemos aferir da possibilidade de o estar ou não nos outros. E, por consequência, de estarmos integrados no grupo correcto.
• O dever de pertença obriga-nos, se não a seguir publicamente a linha oficial, pelo menos a não a contrariar aberta e gratuitamente em publico. Mas também nos obriga a, nas organizações democráticas, a abrir o diálogo em interno. É verdade que esta postura para consumo externo, nos obriga a defender posições (ou pelo menos não atacar) com que não estamos em perfeita comunhão. Quando isso se passa no seio de um outro grupo de pertença (por exemplo discussões de desporto ou politica dentro de grupos de amigos ou em reuniões de família) temos que fazer um delicado jogo de equilibrista entre as nossas filiações. Equilíbrio que se termina sempre por hierarquizar as nossas fidelidades – o meu amigo Fulano vale mais que o meu amor ao Glorioso? – ou, mais terra a terra o nosso conforto imediato – se discuto o penalty com o meu Pai estrago o serão, se discuto politica com a minha namorada acabo a dormir em minha casa.

Nesta categoria de influências eu incluo também a nossa própria história. Quantas vezes o nosso pensamento é influenciado por aquilo que fizemos no passado? E hoje continuamos a seguir uma determinada linha de raciocínio por coerência com o que pensamos/dissemos/fizemos há algum tempo sem o por em causa para não dar o braço a torcer perante terceiros ou nos próprios ou, ainda mais profundo, para ter que reconhecer os falhanços intelectuais do passado.

Terceira categoria de dependências
“The hand that rocks the cradle rules the world” dizem os nossos amigos norte americanos. Na realidade, todos somos todos obrigados pelo nosso património genético e cultural.

Educado a pensar de uma determinada maneira eu posso rebelar-me contra os valores que me deram mas, dificilmente, vou alterar completamente o referencial. Mesmo se decidir assim, não acontece imediatamente. Peguem num exemplo simples: quanto britânicos de mais de 50 anos “pensam métrico” e quando é que realmente começaram a faze-lo? Ainda mais perto, quantos anos é que vai demorar para deixar de pensar em “contos”? Claro que se trata de exemplos ridículos, de baixa extracção quando se está a falar da independência do espírito. Mas ilustrativos do ponto que eu quero fazer.

Além disso, precisamos todos de um referencial. Logo somos, por definição, influenciados por ele. Einstein explicava isso melhor do que eu consigo perceber, quanto mais explicar eu próprio.

Quanto à influência do património genético, basta pensar nas lições televisivas de Português de uma Edite Estrela de 30 e poucos anos. É um outro exemplo de baixa extracção, pois sim. Mas uma vez mais, ilustrativo da “não independência absoluta do espírito”.

Ou, mais seriamente, pensemos na capacidade intelectual com que todos nós somos dotados. O espírito do já mencionado Einstein é mais independente do que o meu, porque é mais poderoso. Ele podia portanto elaborar raciocínios mais complexos porque era capaz de se abster de menos postulados. Era mesmo capaz de criar postulados novos e raciocinar a partir deles. Esta capacidade de derrubar as baias do pensamento é uma consequência directa da capacidade intelectual de cada um. Não só de se libertar dos condicionalismos mas sim de conseguir pensar para além deles.

Conclusão
No dia a dia o nosso espírito é chamado a reflectir sobre vários tipos de assuntos:
• Aqueles em que a questão da independência do espírito não se põe, e que são a maioria:
o Os que resolvemos automaticamente – respirar, comer com garfo e faca, atravessar a rua – ou quase – qual o melhor caminho para ir para o escritório, que gravata levar.
o Aqueles que resolvemos com maior ou menor reflexão mas onde a questão da independência se não põe – a demonstração de software da próxima semana, a proposta a entregar nesta, o relatório a enviar para a Sede ou para um Cliente, a equação do TPC do filho ou o filme da televisão.
• Aqueles onde a questão da independência do espírito se põe e que:
o São meramente de actualidade – que posição tomar sobre as declarações do Primeiro Ministro a respeito da AACS?, que fazer dos GNR no Iraque?
o Relevam do nível dos princípios e da maneira de estruturar a nossa vida e a sociedade – a questão do aborto (que é indissociável das questões mais vastas da Vida e da Religião), as escolhas políticas (que dependem da nossa visão da sociedade).
o São abstractos ou os mais filosóficos – Deus existe?, o Homem tem direito de utilizar o planeta em beneficio próprio e detrimento de outras formas de Vida?

No caso em que a independência é posta em causa, quais são as principais ameaças à independência do nosso pensamento:
• O acesso à informação, que é muito importante nas questões de actualidade.
o Nós seleccionamos um (ou vários) fornecedor(es) de informação e é (são) ele(s) que nos alimentam o espírito. Quando decidimos sobre qualquer assunto fomos naturalmente influenciados pelos dados a que conseguimos aceder.
o O nosso tempo é escasso e vários interesses lançam-se sobre ele de uma forma predatória. Com um tempo reduzido para nos informarmos é cada vez mais deficiente a base sobre a qual se constrói o edifício das nossas ideias e cada vez mais dependente de influências externas é o nosso raciocínio.
o No entanto estas são as consequências de viver neste Mundo que é o nosso. Não há alternativas a um horário sobrecarregado e a sermos informados por uma fonte indirecta. Só nos resta escolher bem
• As nossas filiações e pertenças condicionam as nossas escolhas intelectuais.
o Um benfiquista terá tendência para tentar encontrar justificação para o penalty que deu a vitória ao Glorioso em lugar de analisar o desenrolar do jogo de uma forma imparcial.
o Um nacionalista americano vai privilegiar os Founding Fathers em detrimento de May Lay, quando estiver a contar a história da União.
o Perante um divórcio, a tendência natural vai ser de alinhar com aquele dos cônjuges a quem nos ligam laços de amizade.
o Se, por um lado é desejável que se lute contra essas “tendências naturais”, por outro lado o alinhar posições pelos grupos de pertença é não só um sinal dessa mesma pertença e de confiança no grupo como, nos casos das filiações intelectualmente coerentes uma manifestação de uma afinidade real.
• A nossa história pessoal condiciona o nosso pensamento.
• Em cada um de nós estão gravadas uma série de valores e referenciais que nos foram dados pela educação que recebemos e, também, por aquela que nos fomos fazendo.
o Esses valores são determinantes na maneira como o nosso raciocínio fluí. Podemos argumentar que, também aqui temos a obrigação de lutar contra as ideias que nos foram dadas. É verdade que o devemos fazer mas, tal como na questão das pertenças, devemos ter em conta quais é que são as traves mestras da nossa identidade e estarmos preparados para as aceitar (e reconhecer) como limitações auto impostas à nossa liberdade e independência de pensamento.
• Sobra um nível de limitação do nosso espírito. Essa é a limitação dos nossos gostos e afinidades.
o A minha capacidade de criar (forma maior do pensamento independente) é maior ou menor em função das áreas onde se exerce. Exemplo paradigmático disso é a criação artística.
• E, no mais profundo de nós mesmo existem as limitações de “hardware”.
o A minha capacidade de pensar de uma forma independente está intimamente ligada à minha capacidade intelectual.
 Eu sou tão absolutamente incapaz de ter um pensamento independente sobre a Teoria Unificada Geral como sou de voar. Está para além das minhas capacidades intelectuais.

Nota pessoal
Um bom exemplo de tudo o que disse é esta minha nota. Sobre um tema como a “A independência do espírito” a minha aproximação poderia (deveria ?) ter sido mais filosófica. Mas eu sou incapaz de pensamento abstracto, tenho as minhas convicções e, sempre o admiti, sou um apaixonado pela Política. Por isso a minha reflexão é no âmbito do dia-a-dia e ligada principalmente às escolhas que fazemos nas questões de sociedade e menos sobre as escolhas individuais, sobre a independência das ideias tidas como entidades próprias ou sobre qualquer coisa de maior elevação a que o meu limitado cérebro não chega. E se digo limitado não estou só a dizer que sou estúpido (se bem que não seja tão inteligente como gostaria e, se calhar, penso que sou); se digo limitado estou a dizer limitado pelas minhas escolhas, pelo meu passado, pelos meus próprios interesses. Porque o meu espírito não é independente, dirão alguns.


quinta-feira, novembro 25, 2004

 

25 de Novembro

Passa hoje um aniversário sobre o fim do "Verão Quente".

Estranahmente já quase se não fala do assunto. Talvez uma ou outra recordação em algum orgão de comunicação social.

Como é curta a nossa memoria colectiva e, mesmo, a nossa memoria pessoal. Ou será propositiado? E se é propositado é consciente ou inconsciente?

quarta-feira, novembro 24, 2004

 

Iraque 2

Christian Chesnot e Georges Malbrunot foram feitos reféns no Iraque a 20 de Agosto por um grupo terrorista sunita chamado Exército Islâmico no Iraque.

Destes reféns pouco se fala nos média nacionais. Talvez porque o afastamento do entre o que se passa no nosso País e o que se passa no Hexágono é cada vez maior.

A TSF diz-nos que a 10 de Novembro eles ainda estavam vivos.

Ainda bem.

 

O referendo do Tratado Constitucional 1

O inenarrável Pedro Santana Lopes, na entrevista que deu à RTP1, disse que o Governo não concordava com a pergunta aprovada pela Assembleia da República para o referendo sobre a Constituição Europeia. O Primeiro afina o diapasão pelas críticas anteriormente feitas pelo Ministro dos Assuntos Parlamentares. Mais disse que a culpa era do PS (olha a novidade) mas que, agora, a pergunta escolhida pelo Parlamento devia “seguir o seu caminho”.

O que é extraordinário é que a pergunta foi efectivamente aprovada pelo PS mas também pelos partidos da maioria: o PPD/PSD e o CDS/PP. A intervenção do Primeiro-Ministro parece esquecer que o partido do qual ele é Presidente e o seu parceiro de coligação são, inegavelmente, os principais responsáveis pela formulação da pergunta. Ou, se não são, quer dizer que a sua representação parlamentar são uma cambada de totós.

No entanto, num exercício da sua habilidade e mestria em se dissociar das encrencas e das prováveis encrencas, o inenarrável Pedro Santana Lopes consegue posicionar-se como Chefe de Governo e distanciar-se do Parlamento (aliás ele não é deputado).

terça-feira, novembro 23, 2004

 

Tabaqueira

A Tabaqueira pode ir a Tribunal porque há substâncias cancerígenas no tabaco. E há um scoop nisto? Com franqueza.

Eu não pretendo questionar o dever de qualidade a que a Tabaqueira, como qualquer outra Empresa, está obrigada. Nem subestimar os perigos para a Saúde das substâncias contaminantes alegadamente encontradas em alguns lotes de SG Ventil. E, a provarem-se verdadeiras as acusações, acho muito bem que a Empresa seja acusada, julgada e castigada. E, se for caso disso, os responsáveis envolvidos também. Seja civil seja criminalmente. Com a Saúde das pessoas, e com a Saúde Publica, não se brinca.

Dito isto, confesso que o meu coração não chora assim tanto. Não é má vontade contra as potenciais vítimas desta incúria. Mas não é bem Bophal pois não? Afinal eles sabem bem aquilo que estão a fazer. Hoje, em Portugal, já não há fumadores inadvertidos. Claro que isto é mais grave. Mas mesmo assim, a minha reacção de simpatia ou mesmo de empatia é nula. Não sou lá muito boa pessoa por isso, mas é a verdade.

 

O futuro do passado

Durante o fim-de-semana fui ver “Sky Capatain e o Mundo de Amanhã”. Há anos que não gostava tanto de um mau filme. Porque, não nos deixemos enganar pelo óbvio prazer que o ver nos proporciona, o filme é mau.

Nem a beleza de Angelina Jolie e de G. Paltrow conseguem qualificar a sua prestação neste filme como representar. Isto independentemente de Mz Paltrow, em outros filmes, já ter assinado grandes interpretações. Quando a Angelina Jolie e Jude Law, francamente, não me consigo lembrar de um filme onde tenham ultrapassado a dicção atempada e a o passear das plásticas que, no caso de Angelina Jolie é uma das mais perfeitas do planeta. Talvez “The Bone Collector”.

Para além das medíocres mas cumpridoras performances, este filme conta com processos inovadores ao nível dos efeitos especiais. No entanto, porque estão muito bem feitos, e porque aqui não vimos cenas à la Star Wars até passam ligeiramente despercebidos. Um pouco como em Matrix, só depois de vermos o making of (não vi) é que nos damos conta de como certas cenas foram feitas.

Por último, o enredo é bera, colado com custo e cheio de pontas desapertadas.

O que torna este filme tão extraordinário é a sua ideia. É um filme feito por apaixonados pelo Cinema e para apaixonados pelo Cinema. As piscadelas de olho são muitas: A Guerra do Mundos, Yoda, 007, para citar algumas das que consegui identificar. Seguramente há muitas outras que me passaram despercebidas e ainda outras que não tenho bagagem para reconhecer. É isto uma das razões porque este filme é um tesouro. De 5 em 5 minutos o filme atira para o nosso colo mais uma pedra preciosa, mais uma maneira de dizer que o Cinema é um gosto partilhado e, de cada vez que isso acontece, ficamos a gostar mais e mais deste filme.

Mas o mais importante é o próprio ambiente do filme. Misto de Marlowe e Flash Gordon e o planeta Mongo este file arrasta-nos para os anos 40. Mais concretamente para os anos 40 de um universo alternativo onde ficcionalmente se passam. Desde a Maldição do Escorpião de Jade de Woody Allen que não havia uns anos 40 tão bem postos em cena. Mas estes, até pela cor (quase ausência excepto em Shangrilá) e estética exagerada são mais eficazes desde quase tudo.

Por outro lado a essência do filme também é a do fantástico. Mas um fantástico de série B, de filmes em 31 partes dos anos 20/30. Zarkov e Ming ou Metropolis espreitam bem perto. Nisso, no seu ambiente dark, mas um dark exagerado, ficcional, de cartão, retro quase kitsch e ao mesmo tempo tão eficaz, este filme faz recordar a Gotham do primeiro Batman.

O futuro do passado não é o presente. O futuro do passado é aquilo que eles, no passado, sonharam que o futuro ia ser. É num desses futuros possíveis que este filme se passa. E por isso é impossível alguém como eu deixar de gostar dele. É um objecto raro, como os dodos que brevemente aparecem. Já não existem e hoje são mais míticos que históricos.

Por curiosidade acrescento que, quando saí do cinema, comprei o ultimo Blake & Mortimer. Também aqui estamos em tema, com uns anos 50 que não foram, mas podiam ter sido. Com criadores novos mas fiéis aos sonhos de Jacobs, também aqui estamos num futuro do passado que, para nós, já passou.


segunda-feira, novembro 22, 2004

 

A comissão Barroso, a Esquerda e a Direita na União

O comissário francês é alvo de acusações e de pedidos de demissão. Chovem sobre M. Barrot as memórias de condenações por financiamento ilícito do seu partido.

Há 5 anos a Esquerda detinha mais de metade do Governos dos então 15. O melhor que se conseguiu arranjar como Presidente da Comissão foi Romano Prodi, um ex-diessino que só o désarroi em que a Esquerda agora se encontra, permite de classificar confortavelmente e sem segundos pensamentos como de um Homem de Esquerda. Seguramente de uma parte da Esquerda. A comissão Prodi foi o que foi e cumpriu os seus 5 anos atravessando períodos difíceis, de claro aumento do eurocepticismo apesar de ter presidido ao alargamento e ao Euro. O Professor de Bolonha não saí levado em ombros como Delors mas também não saí curvado de vergonha como Santer. Prodi saí de Bruxelles para ir chefiar o combate contra il Cavaliere Silvio Banana em nome da Esquerda italiana que, aparentemente, se revê nele e na qual ele se revê.

Hoje a Direita controla o PE saído das eleições deste Verão. A maioria do Conselho Europeu é de Direita. A nomeação de uma nova Comissão devia ser simples e pacífica. E no entanto, a Comissão Barroso está incapaz de começar a trabalhar como deve ser. Depois do débâcle Buttiglione agora isto.

A tentação de dizer que Durão Barroso não fez o seu trabalho de casa na escolha e aceitação dos candidatos a comissários ou que a Direita está povoada de reaccionários e trafulhas é grande. Mas não é tudo uma questão de incompetência, beatice e albradice, é também uma questão de falta de empenho no projecto europeu.

Hoje a Comissão é menos considerada e mais escrutinada e a relutância de ir para lá aumentou. Assim como aumentou a relutância de enviar para lá trusted allies ou “um dos melhores de entre nós”. Por isso Chirac envia este Barrot que confesso não sei quem é e me parece uma segunda figura e o Governo Italiano enviou o incómodo Buttiglione que era alvo de ataques em casa e, ainda por cima pedia um poder dentro da coligação que não merecia e que a representatividade do sufrágio lhe não dava.

Estas não são escolhas prestigiantes mas sim chatices que é preciso cumprir. Um Governo verdadeiramente empenhado no projecto europeu nunca os teria proposto. Porque não é com reaccionários e desonestos que se constrói um sonho em que acredita.

Tal não me espanta de il Cavaliere Silvio Banana mas admito que não o esperava de Chirac. Mas se calhar, ele não considera desprestigiante ter problemas com o fisco ligados ao financiamento ilegal de um partido político. Porque será?

domingo, novembro 21, 2004

 

O (des)Governo de PSL 1

Esta não foi uma boa semana para a coligação. Depois do congresso do seu próprio partido em a coligação for zurzida pelas bases que não se reconhecem num Governo que anda a reboque do CDS, o Presidente do PSD ainda teve que ir almoçar com o Dr. Portas para benefício das câmaras e dos microfones, e para, supomos, lhe pedir desculpas pelos sentimentos do PSD. Para o inenarrável Pedro Santana Lopes não deve ter sido um almoço de fácil digestão.

Para ajudar à festa, durante a semana, o CDS chamou à pedra o PSD a propósito da questão do aborto. Como relembrou o partido que realmente manda na coligação, o aborto não se discute, não se mexe em nada, fica tudo como está. Independentemente da vontade da maioria do PSD, quem manda no Governo da República é um punhado de ultra-conservadores reaccionários e beatos que hoje é o CDS.

Num qualquer episódio de “Yes, Prime Minister” o inefável Sir Humphrey Appleby explica ao PM que perder um ministro é acidental mas dois parece descuido (cito de memoria, seja-me perdoada alguma imprecisão). Ao fim de 4 meses (dos quais um, para não dizer dois, foram as férias de Verão) o Governo da República perdeu 2 dos seus Secretários de Estado. Como os nossos Secretários de Estado correspondem a junior ministries no Governo de Sua Graciosa Majestade, a frase do mais famoso dos Secretários Permanentes do Gabinete ajusta-se que nem uma luva.

No final da semana o Presidente da República vetou o Gabinete de Informação e Propaganda que o Governo pretendia criar. Como Sampaio é a principal (para não dizer única) fonte de legitimidade política do actual Governo, este ouviu com a orelha baixa.

Domingo à noite António Capucho deu uma interessante entrevista no “Diga lá Excelência” da 2:. Com o estilo florentino que lhe recordamos do tempo da AD, o Presidente da Câmara de Cascais, brilhantemente assassinou a Direcção do seu próprio partido. Com amigos destes não é preciso ter inimigos.

E passo sobre a AACS e outros faux pas da semana. Enfim, se eu fosse pessoa de melhor índole ainda tinha pena deles.

sexta-feira, novembro 19, 2004

 

The next big thing

Aviso que eu próprio me interrogo sobre a veracidade da informação. É de tal maneira surreal que eu penso que deve ser brincadeira. No entanto, em Política poucas coisas me espantam e o amigo (conhecido como “O Gordo das Barbas” pelos amigos ou, mais familiarmente “O Gordo”) que me contou isto merece toda a confiança.

Parece que existe por aí uma pessoa, a historia original diz um jovem executivo de uma agencia de publicidade (de publicidade nem mais), que está a pensar qual poderá ser “The next big thing” para Portugal. É que, depois do Euro2004, da Expo98, etc., é preciso arranjar uma “coisa em grande” capaz de atrair as atenções internacionais sobre o nosso País e, concomitantemente, atrair hordas de turistas ao dito País.

Apanhado de surpresa, meu amigo só conseguiu sugerir:
• As provas de qualificação da América Cup.
• A primeira visita do novo Papa ou a próxima edição das Jornadas Mundiais da Juventude.

O mais divertido da história é que seria preciso realizar esta “grande coisa” antes das próximas eleições. Para boostar o moral da populaça e o score eleitoral da coligação. Pão e circo, dizia a Republica Romana.

Indignado por o meu amigo ter fornecido ideias ao publicitário a soldo do inenarrável Pedro Santana Lopes, zurzi forte e feio nele. Isto apesar das ideias dele serem cretinas. A sua resposta foi que, na realidade, ele nem conhecia o dito publicitário, tinha sido uma stripper do Gallery que lhe tinha feito a pergunta. Era ela que efectivamente sabia a história toda, o meu amigo sabia tudo só por ouvir dizer.

Este pormenor da loura do Báltico que, entre copos de tónica pagos como cocktails a 20€, tenta arranjar boas ideias para o Governo do PSD, empresta um toque de veracidade ao episódio.

Assim já sabem, se em 2006 as JMJ e o novo Papa vieram cá e Vocês não conseguirem estacionar o carro ou entrar nas carruagens do Metro, culpem o Gordo.

 

O primeiro falhanço deste blog

Ao fim de duas miseráveis semanas, este meu blog regista já o seu primeiro inegável falhanço – não consegui manter uma frequência diária.

Ontem não arranjei tempo ou ideias para uma nota, por muito breve e desinteressante que fosse. Para mais, sem antecipadamente que este fim-de-semana, a coisa deve ir pelo mesmo caminho.

Como já desconfiava, isto de arranjar ideias todos os dias não é fácil. Só serve para aumentar o meu respeito por aqueles são comentaristas de profissão e a conseguem desempenhar bem. Mas faz também aumentar a minha irritação por aqueles que o fazem mal. Até porque rapidamente se percebe que não temos jeiteira para a coisa. Felizmente que, aqui neste cantinho perdido da net onde ninguém me lê, faço menos figura de tolo que nas páginas impressas de um quotidiano ou na rádio.



quarta-feira, novembro 17, 2004

 

Invejosos

O comentário que me vem à cabeça é, inegavelmente cretino. Mas no estado actual da televisão nacional não creio que algo de sério se imponha. Ridículo ou não, cá vai: Vocês acham que a demissão da Direcção de Informação da RTP1 insinuando mais que alegando interferência do CdA é inveja do Professor Marcelo Rebelo de Sousa? O que eles fazem pelas audiências.

 

A Itália dos Valores

O site Times Online insinua que o candidato italiano à comissão Barroso é maçon (http://www.timesonline.co.uk/article/0,,3-1351696,00.html).

Depois de Buttiglione que era C&L il Cavaliere Silvio propõe Frattini que seria FM.

A pergunta salta aos lábios: Vale tudo desde que seja de uma sociedade secreta? Para quando um candidato mafioso? E daí...


terça-feira, novembro 16, 2004

 

O ecologista céptico e os outros têm ambos razão ou estão ambos errados?

Bjørn Lomborg nasceu em 1965 como eu. As parecenças param aí. O Dr. Lomborg é professor associado de estatística na Universidade de Aarhus na sua Dinamarca natal e em 1998 publicou um livro que causou celeuma chamado “O ecologista céptico”. Publicado como um trabalho científico e em dinamarquês, o livro passou despercebido até que a Cambridge University Press o publicou em inglês em 2001. Neste momento ele tornou-se um nome conhecido mundialmente e as suas teses objecto de controvérsia e disputa por gente de todo os quadrantes.

Com abundantes dados estatísticos ao apoio e uma prosa recheada de siglas e nem sempre fácil (pelo menos na tradução que eu escolhi, uma vez que não leio nem falo dinamarquês – “L’Écologiste Sceptique”, Ed. “Le Cherche Midi”, Collection documents, Paris, 2004, 743 páginas) o Dr. Lomborg questiona uma série de verdades assumidas como boas pelo movimento ecológico mundial. Quase imediatamente hostes sortidas de ecologistas tradicionais acusam o Dr. Lomborg de tudo e mais alguma coisa. De ser pura e simplesmente mentiroso e inventar alguns dados, de ser sequioso de publicidade e oportunista até falta de critérios científicos e de manipular os dados para conseguir “provar” os resultados que queria. No fundo, cada um acusa o outro de mentiroso para assegurar o seu “fundo de comércio”. Independentemente de quem tem razão, e eu não tenho as capacidades cientificas de fazer a destrinça, o Dr. Lomborg levanta algumas questões interessantes.

Vem isto a propósito da recente publicação do relatório “ACIA: Impacts of a Warming Artic: Artic Climate Impact Assessement”, por coincidência (ou talvez não) também publicado pela Cambridge University Press.

A comparação entre os dois documentos não deixa de ser interessante. Vejamos um pequeno exemplo:
• Na página 43 do ACIA existe um belo gráfico que nos mostra uma projecção da parte da Florida que seria eventualmente submersa com uma subida do nível médio do mar de 1 mt.
• Na página 487 do livro de Lomborg, no capitulo “O aquecimento do planeta”, sub capitulo “As consequências: elevação do nível do mar” lê-se: “ … as elevações do nível do mar operar-se-ão gradualmente ao longo do século, as previsões económicas racionais … custo total para a protecção nacional americana e as expropriações para um aumento do nível do mar de 1 metro (mais do dobro do que se espera para 2100) é aproximadamente de 5 a 6 mil milhões de dólares ao longo do século … o quarteirão histórico Art Deco … traz 11 mil milhões de dólares por ano à economia”.
• Outros exemplos podem ser dados. Vejamos um deles. O ACIA é baseado nos cenários B2 e A2 do de entre os 6 cenários clássicos no SRES do IPCC (pagina 126). Lomborg relativiza esta escolha e menciona 40 novos cenários (Pagina 472).

Ambas as aproximações ao problema não são incompatíveis. Se formos positivos dizemos que os ecologistas apontam problemas reais e muito importantes e o Dr. Lomborg posiciona-os numa perspectiva diferente. Se formos negativos dizemos que o ACIA grita “Lobo” e o “Ecologista Céptico” assobia para o ar.

No fundo, e sem validar as conclusões de Lomborg, eu ponho as mesmas 6 perguntas que ele faz relativamente ao aquecimento global:
1. Qual é o impacto do CO2 na temperatura?
2. Existem outras causas para o aumento da temperatura?
3. Os cenários sobre o efeito de estufa são coerentes?
4. Quais são as consequências de um eventual aumento de temperatura?
5. Quais são os custos de uma redução das emissões de CO2 comparando com uma ausência de redução?
6. Como definir as nossas escolhas?


As 4 primeiras questões são puramente científicas. Podemos argumentar, como o faz o nosso dinamarquês, que nem sempre os ecologistas são correctos nas suas analises.

As perguntas 5 e 6, são puramente políticas. Devemo-nos perguntar não só quanto custa não reduzir as emissões de carbono e perder uma série de coisas como a biodiversidade, etc., etc., como quanto é que custa não o fazer. Só assim se pode fazer uma escolha inteligente.

Para mim, a principal vantagem do livro do Dr. Lomborg é explicar que nestes assuntos do ambiente existe uma outra visão. Que as coisas não se dividem entre os poluidores e os ecologistas, mas que, como em quase tudo, existe um balanço a calcular.

A segunda coisa que este livro traz é o questionar as “verdades oficiais”. Aqui, como em tudo o resto, isto é importante.

Confesso que, em termos do desenvolvimento sustentável eu tenho mais duvidas que certezas. E que não me sinto com bagagem cientifica para atacar as minhas duvidas com facilidade. Mas não esqueço que o ser ambientalmente sustentável é só um dos 3 pilares.

Repito: eu não tenho certezas. Parece-me que o ACIA as têm. E para as contrabalançar o “Ecologista Céptico” é um bom livro.


segunda-feira, novembro 15, 2004

 

Congresso do PSD

O inenarrável Pedro Santana Lopes e o seu Partido, estiveram em Congresso durante o fim de semana.

Recorde-se a constituição das listas até às 4, a maratona de representantes das bases a clamarem contra o desvio do seu partido que sentem raptado mas que, digamos em seu desabono, aceitam pela permanência no Poder e, acrescento com maldade, pela chuva de benesses.

Em detalhe recordemos apenas que o inenarrável Pedro Santana Lopes se sentiu obrigado a responder directamente a uma intervenção que basicamente dizia “Pai não voltarei ministro tão cedo e portanto mais vale dizer a verdade”. Notem que, quando era ele o enfant terrible que partia a loiça toda, ao inenarrável Pedro Santana Lopes não eram normalmente os presidentes que respondiam. Dado o péssimo trabalho feito por Sarmento na réplica, Luís Marques Mendes, como o próprio notou abundantemente nos meios de comunicação social, teve a honra de ver o Presidente do partido responder-lhe à pressa e a uma muito inconveniente hora.

Este é o estado do mais importante partido do nosso País. Pois...


domingo, novembro 14, 2004

 

Arafat 2

Yasser Araft morreu. Desde o dia seguinte à sua chegada a Paris que circulavam rumores sobre a sua morte cerebral. E, dizem os boatos, se não se anunciava a sua morte, se não se deixou morrer o seu corpo e não se desligavam as máquinas era porque se tornava necessário esperar pela resolução de uma série de problemas que se estava operando nos bastidores. Semelhantes rumores circularam a respeito de Mao Zedong, Tchernenko, Andropov e sem dúvida, algum doido o porá a correr na Internet quando se anunciar o fim da vida de Carol Wotjila.

Um dos problemas em causa era a nomeação do sucessor. Ou, pelos menos, de um candidato a sucessor que se apropria da pole position e se torna o principal alvo das controvérsias, opiniões e balas adversárias.

Também na questão do sucessor, Arafat se aproxima de Mao, Andropov e todos os outros, que tinham em comum o serem ditadores que governavam a coberto de uma máscara de pretensa democracia. Formalmente eles eram eleitos e a sua ascensão e manutenção no Poder era o resultado de uma expressão democrática do sufrágio.

O primeiro problema que põe a substituição de alguém assim é que é necessário seguir uma série de procedimentos formais para entronizar o escolhido. Ora como, por norma, o ditador eterniza-se no Poder em lugar de o abandonar quando a saúde, a idade e o bem senso a isso aconselham. Perante a crise é necessário fazer a correr aquilo que devia demorar mais tempo. E o que é feito a correr é quase sempre atabalhoado. Seria mais simples se tivesse sido atempado ou se não se insistisse na pretensão da democracia. Bem mais expedita, para autocratas, é a formula “Le Roi est mort, Vive le Roi”.

O segundo problema é que o excesso de Poder nas mãos de uma pessoa cria, quando este desaparece, um enorme vazio. E como a Natureza tem horror ao vazio, e mais ainda ao vazio de Poder, esta concentração só serve para agravar um problema já de si complexo. Por vezes, como no caso de Nikita K, a solução é uma troika em que cada um dos actores fica com um (ou vários) dos múltiplos cargos que o desaparecido detinha. Solução temporária que, aliás pareceu vigorar na Autoridade Palestiniana por alguns dias.

O terceiro problema é a ausência de herdeiro confirmado ou um claro número 2. É claro que nem sempre é fácil calçar os sapatos de um líder carismático mas é uma das obrigações desses líderes, quando têm um entendimento democrático do exercício dos ser cargos, de criarem as condições para que os talentos naturais dos outros desabrochem. Muitas vezes o número 1 não o quer. O problema é que os herdeiros “in waiting” muitas vezes se chateiam do “in waiting” e fazem uma tentativa (por vezes sucedida) de tomar o lugar do seu chefe.

Os rumores da sua morte antecipada ou adiada são mais um elemento a acrescentar a outros que nos recordam que Yasser Arafat morre como viveu, um autocrata, um (ex-?) terrorista, inegavelmente um líder carismático, mas não um democrata.

O tamanho das contas bancárias, de um valor capaz de fazer empalidecer o mais empedernido cleptocrata africano (pun intended) e a manipulação da parte da sua esposa do “direito ao cadáver” até ver as suas pretensões financeiras satisfeitas são a enésima confirmação a reforçar o que atrás disse.

Independentemente da opinião pessoal sobre YA a verdade é que a morte de alguém é sempre uma coisa triste. Especialmente quando dolorosa. Para mais quando é acompanhada de um circo politico-mediatico. Todos temos direito a morrer em dignidade.

sábado, novembro 13, 2004

 

Repensar a Esquerda 1

No meio do junk mail e das piadas de maior ou menor gosto recebidas após a eleição americana encontrei esta pérola num comunicado da Culture Jammers Network e que reproduzo com a devida vénia.

It wasn't the media. It wasn't the youth. It wasn't the work of Karl Rove or the "ignorant" American heartland. Bush is back. And the reason lies in the crumbled remains of the political left.

All our heroes -- Michael Moore, George Soros, Moveon.org -- promised we were building a movement, leading a rebirth of progressive thought. But on Nov 3rd, when the bubble of rage burst, there was nothing inside. Why? Because the left was missing what its been missing for years: ideas.

Whether you like them or not, Bush has ideas. He has beliefs and values that inspire people. What does the left have? What do we stand for? Hard to tell.

Here's a more direct question: what do you stand for? Over the next four years, let's get together and find out. Let's finally do what we should have done years ago: jump over the dead body of the old left. No more whining. No more fuzzy thinking. No more listless causes. If we believe in peace, clean air, accountable corporations, true-cost pricing and media democracy, then let's refine these ideas into memes -- soundbite sized mindbombs -- and start exploding them into mainstream consciousness.


Não estou de acordo que o cadaver da velha esquerda deve ser descartado facilmente. Não estou de acordo que a Paz, o Ambiente, Coprporate Acountability e os media sejam as principais bandeiras da Esquerda. Mas estou absolutamente de acordo que é preciso fazer a Refundação Intelectual da Esquerda, que é preciso esclarecer quais é que são os nossos Valores e as nossas Bandeiras e que é temos que actualizar as nossas tacticas e tecnicas. É urgente sermos nós a definir-nos, sob pena de estarmos a ser definidos pela Direita. Ou de cessarmos de ser.

sexta-feira, novembro 12, 2004

 

Congresso da Democracia

Terminou hoje o 1º Congresso da Democracia Portuguesa. Organização da Associação 25 de Abril ocorreu durante dois dias na Fundação Calouste Gulbenkian.

Independentemente do que lá se disse, esta reunião arrisca-se a ficar para a memória colectiva como o arranque da campanha presidencial de António Guterres.

Será correcto? Será muito? Pouco? Injusto? Falta ainda distanciamento para o analisar. Mas a ser verdade será seguramente inglório.

Por um lado porque algumas das comunicações tiveram muito interesse e é injusto e inglório reduzi-las ao décor do acto primeiro da candidatura do Engenheiro,

Por outro lado porque, em valor absoluto, o Congresso, com todos os seus méritos e deméritos, talvez por causa da fraca cobertura que os média lhe deram, seguramente pela a adesão que suscitou, ficou aquém das expectativas que criou em alguns de nós. Nomeadamente em moi-je.

quinta-feira, novembro 11, 2004

 

Os impostos baixam ou não?

O inenarrável Dr. Santana Lopes já nos tinha habituado à ideia de que ele não mais era que o porta-voz de um Governo chefiado pelo Dr. Bagão Félix coadjuvado pelo Dr. Paulo Portas. Mas no seu afã de relações públicas de um governo CDS junto do eleitorado e do seu próprio partido, PSL de vez em quando erra.

A falta de coordenação no caso dos impostos é crassa. O Primeiro-ministro Dr. Lopes diz uma coisa e o Chefe do Governo Dr. Félix diz outra. Afinal a quantidade de dinheiro que eles vão buscar aos nossos bolsos baixa ou não baixa?

E, já agora, para além de saber se o imposto baixa é também interessante saber se a grimpa do ministro perante o seu chefe baixa ou não. Não sei se quem manda é Bagão ou é Lopes, mas neste momento parece que não é nenhum deles. Pode ser que o resultado desta barafunda seja perceber que é que realmente manda. Eu até gostava de saber.

Eu, que sou simpatizante da Oposição, andava a clamar há meses que isto era um desgoverno total. Mas confesso que não tinha percebido bem a amplitude do desastre. Começo a desconfiar que afinal eu tinha muito mais razão do que pensava e eles não só não sabem bem para onde vão como nem desconfiam.

Isto é, colectivamente não sabem para onde vão. Porque individualmente não tenho dúvida que o Dr. Bagão e o Dr. Portas sabem bem para onde é que querem ir. O PSD é que vai a reboque num comportamento mais próprio do parceiro minoritário que daquele que é (devia ser) o principal partido do Governo.

Entretanto PSL acaba de vir dizer aos microfones da TSF que os impostos vão mesmo baixar e que isto é a mesma operação que o PS fez em 2001. Ou seja afinal o PS não foi assim tão mau como isso, se o Governo CDS/PSD já se permite fazer as mesmas coisas. Afinal ainda iremos descobrir que a governação socialista não foi tão irresponsável como eles passaram o tempo a dizer (e não foi mesmo).

Sera que alguma coisa vai mudar depois do Congresso do PSD deste fim-de-semana?

Seja-me permitida uma "boca foleira" será que o PR já está arrependido? Sampaio, que está em Itália, pode bem chorar as suas mágoas (se é que as tem) no ombro de Ciampi. Porque este, com il cavaliere Banana também tem muito que se lamentar.

quarta-feira, novembro 10, 2004

 

Arafat 1

O triste espectáculo que se está a gerar à volta de Yasser Arafat tem todas as marcas do passamento de um potentado oriental que ele era.

De um lado temos os putativos herdeiros a visita-lo, do outro a mulher a tentar controlar o acesso e a apresentar-se como mediadora entre Arafat e o Mundo.

Passemos um véu piedoso sobre a separação de facto entre os dois esposos ou os diferendos passados entre o Presidente da Autoridade Palestiniana e aqueles que agora o vão colectivamente substituir. Até mesmo porque “entre marido e mulher não metas a colher”.

Mas a realidade é que a tentativa de se apropriar da “palavra de Arafat” e, estou seguro, dentro de pouco tempo da sua “herança” identifica um sistema (a AP) onde a legitimidade vem menos do sufrágio ou da causa e mais da vontade do Líder. A pessoa de Arafat, a sua história, a sua rede de influências, os seus fiéis, etc. eram a sua legitimidade.

Por isso, quem controla o acesso a Arafat, se não à pessoa (que está incapaz de qualquer coisa) ao pensamento, controla o poder. Ou assim se pensa. Isto porque não há legitimidade democrática na actual AP. Admitindo que existe legitimidade de algum tipo na dita causa palestiniana.

Isto espelha aquilo que Arafat é/foi. Um autocrata à maneira médio oriental à volta do qual se organiza uma clique decalcada da imagem e semelhança de uma mítica ideia do Divan da Sublime Porta. Estamos a assistir às típicas trepidações de uma corte que se agita pelo morte do suserano.

terça-feira, novembro 09, 2004

 

O Candidato da Verdade

Eu estava a pensar deixar de falar de Politica e das eleições americanas e falar de outra coisa. De Cinema por exemplo. No entanto, dada a penúria da oferta das salas, acabei a ir ver o remake de “The Manchurian Candidate” protagonizado por Denzel Washington. Não deve ter sido inocente a escolha das distribuidoras cinematográficas de programar um filme sobre as eleições presidenciais norte-americanas para o início de Novembro. E o meu gosto pela Politica não me deixaria passar ao lado deste filme. Por isso, e apenas de raspão, continua a falar de eleições americanas.

O filme em exibição é um thriller competente que ocupa agradavelmente o tempo e, no fim, não se sai da sala com a convicção de termos sido roubados do nosso dinheiro.

Mas não é um filme excepcional e, na memória de quem viu ambos, “The Manchurian Candidate” será sempre um título evocativo do original com Frank Sinatra, Angela Landsbury (a da série “Muder, she wrote” e da versão de “Morte no Nilo” com Ustinov e Birkin), Janet Leigh (de Psycho) e outros. Este passava-se durante a Guerra Fria e era necessário vê-lo sobre o perigo da ameaça soviética. Creio que para os jovens que se tornaram adultos depois da queda do Muro o filme original poderá parecer tão ridículo como Natasha Fatale e Boris Badenov. Mas para aqueles que começamos a ver telejornais e a ter interesse pelo Mundo fora da nossa rua e dos nossos recreios antes do fim da década de 70, a imagem com que crescemos das tropas a desfilar em passo de ganso pela Praça Vermelha dá um toque de realismo à trama.

Não deixa de ser interessante de verificar que “os maus” do file actual são “Big Business”. Hollywood pode ter uma “hidden agenda” mas também é uma operação comercial. Aliás, é principalmente uma operação comercial. E dá ao público aquilo que ele quer ou, pelo menos, não rejeita. Há aqui uma reveladora escolha, que não é evidente. Se, por exemplo, o vilão de Erin Brockovich não podia ser outro que a “grande, malvada corporação”, aqui podia muito bem ser Saddam Hussein ou Usama. Se o realizador ou os argumentistas fizeram essa opção é porque assim o entenderam. Mas se os estúdios estão dispostos a arriscar a escolha é porque pensam que as audiências o aceitam. Este é um interessante sinal de que a percepção de quem são os inimigos da classe média americana (aqueles que pagam bilhetes, alugam vídeos e compram DVDs) está a mudar. Mas não embandeiremos em arco que eles acabaram de (re)eleger Dubbya.

Uma nota final: quem está no Senado é a personagem interpretada por Meryl Streep quando, se a memoria me não falha, Angela Landsbury era apenas a esposa de um Senador. Também aqui, muitos e grandes passos foram dados nestes 40 anos.

O Cinema, mais do que a Literatura ou qualquer das Artes Plásticas é a grande Arte de massas do XX e do início deste XXI séculos. Por isso ele é tão repórter como actor da vida da Cidade.

segunda-feira, novembro 08, 2004

 

O Jornal da 2: de ontem

O Jornal da 2: de Domingo disse-me que:
- Na Costa do Marfim os Franceses e os locais estavam aos tiros uns aos outros. Não se explicou lá muito bem o porquê. Não se disseram que a Republica Portuguesa nem sequer tem representação diplomática ou plano de apoio aos nossos concidadãos e não se percebeu muito bem quem está a ganhar.
- O inenarrável Pedro Santana Lopes decidiu manter o contingente da GNR no Iraque. Não houve o agora tão ma modaa contraditorio por nenhum Partido da Oposição. Não sequer se pediu a nenhum dos inumeraveis punditas da nossa praça par fazer um comentário seja ele militar, social ou politico. Mas também se compreende porque o Gabinete do PM não se dignou a mandar ninguém aparecer para as câmaras a dar a noticia. Nem uma alminha empregue pelo recém criado Gabinete de Coordenação Informação e Propaganda pode ser incomodado durante o fim de semana?
- O que resta do PCUS manifestou se hoje em Moscovo. Com fotografias de Vladimir Illich e tudo. Eu vi as imagens.
- Os portugueses de estavam presos e foram libertados na Venezuela por causa de um assunto de tráfico de drogas contrataram seguranças porque temem pela vida. Mas não foram eles que disseram à Policia venezuelana que desconfiavam dos seus passageiros? E a dita Policia faz o quê? Népias?
- Seguiu-se um momento de descarada propaganda com o anuncio de que o Governo tornou mais fácil criar uma empresa e através da abertura de “autênticas lojas do cidadão para as empresas”. Olha que bonito.
- A propaganda segiu com um rappel de que é muito mais fácil entregar os impostos pela Internet.
- Um gajo qualquer veio falar do Congresso das Telecomunicações a dizer o que me soou a inanidades e clichés. Para deizer a verdade se calhar foi muito interessante mas eu levantei-me para ir verter águas.
- Álvaro Barreto apareceu numa preview do programa que ia dar imediatamente a seguir para defender o Governo daquilo que a Standard & Poors disse e explicar que é normal que as empresas de comunicações queiram fazer jeitos aos Governos. Não cheguei a perceber se era propaganda ou publicidade ao programa.
- Ao menos houve um arzinho de oposição com Carlos Carvalhas a pedir a cabeça de Gomes da Silva.
- Marcelo Rebelo de Sousa vai voltar. Não se percebeu como nem onde e portanto não se percebe como é que é noticia.
- O Director Geral dos Impostos deu uma entrevista a um jornal e o apresentador leu algumas passagens enquanto no ecrã passavam imagens de uma repartição de finanças vazia e a capa do dito jornal. A coisa era tão mazinha que não chegou a ser propaganda. Foi algo só qualificável como “do outro mundo”.
- A Casa Pia volta a ser notícia. Ou volta a ocupar espaço noticioso. Não quero menosprezar o horror do que lá se passou mas confesso estar a perder a paciência para casos de policia.
- Lobo Antunes escreveu mais um romance. A geração dele, que é a única que gosta dele, que aliás é a única que o lê, deve estar exultante. Eu indiferente.
- Depois veio o desporto e eu passei ao computador para escrever isto.

E o Jornal da 2: é o melhor das ondas hetzianas. Sem Quinta das Celebridades, sem muito futebol e sem os crimes da Joana e quejandos. Apesar do vazio, da propaganda e das deficiências é aquele que eu vejo, quando chego a casa a tempo.

Francamente, já acho difícil manter um blogue onde me proponho dizer qualquer coisa sobre o que se passa mas confesso a minha incapacidade para dizer qualquer coisa de interessante sobre este estado das coisas. E já não digo interessante para qualquer eventual internauta que por aqui passe. Perante estes assuntos eu não consigo pensar em nada que eu próprio ache interessante. O estado da informação televisiva nesta soalheiro País que tão generosamente acolheu o Dr. Koetter no seu seio é surreal. Estamos ao nível de Mario Henrique Leiria ou do Dr. Freddy de que acabei de falar.

Voltemos a ler os “Contos do Gin” ou os “Bilhetes de Colares” que é a mesma coisa que ver a actualidade nacional nos ecrãs de nossa casa. O melhor ainda, voltemos a“Os Maias” que o Eça é intemporal e explica sempre Portugal quando nos surgem duvidas.

Para saber o que se passa, resta sempre “The Economist”. Não é snobismo da minha parte, é falta de qualidade da parte deles.

domingo, novembro 07, 2004

 

Iraque 1

Porque é que ninguém fala mais de Christian Chesnot e Georges Malbrunot?

Foram libertados e eu não dei por nada?


 

Eleicoes americanas 6

As recentes eleições norte-americanas mostraram uma vez mais um País dividido também pela sua geografia. Olhando para um mapa dos resultados das eleições presidenciais aquilo que se vê é um enorme continente vermelho com 3 manchas azuis – Mid Atlantic, o Norte do Mid-West à volta do lago Michigan e a franja mais ocidental do País, aquela que é está mais próxima do Pacifico.

Um mapa dos resultados do Congresso mostra que existem algumas bolsas democratas no Sul e que o Midwest é de leitura menos linear mas não altera o que foi dito anteriormente. Para além do mais na House, não deixará de ser interessante estudar o efeito que a redistribuição das circunscrições teve na capacidade de os incumbentes manterem os seus postos.

Esta divisão já era muito clara na contenda Gore-Bush e, na época escondia uma outra que era a divisão entre as cidades e as áreas menos urbanas. Em 2000 Gore foi o escolhido dos grandes centros urbanos e Bush da dita América profunda.

Uma análise “a correr” dos resultados afixados no site da CNN parece confirmar que, desta vez, a situação é a mesma.

Uma das grandes divisões que se pressagiam no campo das ideias e das escolhas morais, filosóficas e politicas é entre os “urbanos” e os “rurais”.


sábado, novembro 06, 2004

 

Eleicoes americanas 5

A campanha eleitoral americana de 2004 foi, muito provavelmente, das menos interessantes dos últimos anos. Pelo menos foi das que menos me interessou. Admito que, com a idade, estou a perder a capacidade de me deixar arrebatar pelos acontecimentos. Um acontecimento como este, que há alguns anos ter-me-ia interessado em excesso, hoje deixou-me mais frio do que gostaria de admitir. No entanto, digo em minha própria defesa, penso que existem motivos de desinteresse.

A contenda entre Kerry e Bush Jr. reduziu-se a uma interminável série de acusações sobre o Iraque e as personalidades politicas de cada um deles. Principalmente de Bush. De substancial não se discutiu grande coisa. Ou se assim foi eu não dei por isso. Admito que a comunicação social europeia seja em parte culpada pela cobertura que fez. Mas eu também estou demasiado calão para procurar outras de uma forma consistente outras fontes, como teria feito no passado.

Houve um sério debate sobre a rigidez orçamental? Ou sobre o ambiente? A segurança social? A reforma das leis de financiamento politico? Onde estás Al Gore II? Onde estás Hillary Rodham? Onde estás McCain? Por muito que me custe dizer, onde estás Newt?

Houve debate sobre qualquer coisinha para além de que o Presidente é muito duro e o Senador Kerry muito mole? Que diabos, estamos a falar do Presidente da única hiper potencia mundial não de um colchão.

No caso do Iraque, onde é que estavam as grandes diferenças? No fundo a discussão foi sobre a maneira como Kerry teria tratado a crise. Kerry teria falado com os aliados europeus como a França e a Alemanha em vez de se contentar com os cãezinhos de colo Blair e Aznar. Os Democratas acham que isso é ser uma pessoa de consensos e o GOP acha que isso é ser um fraco. Mas para o futuro, qual seria a alternativa? Kerry não iria fazer como Zapatero e retirar as tropas do Iraque, pois não?

No fundo tudo se reduzia a pensar se John Forbes Kerry é estruturalmente uma pessoa melhor talhada para ocupar a Sala Oval que George Warker Bush. O que não deixa de ser a minha opinião pessoal (se fosse americano penso que seria um “registred Democrat”) e acima de tudo uma questão muito valida. E portanto que, um ou outro seria capaz de ter as melhores escolhas nos desafios que se vão por a sua frente nos próximos 4 anos que passa ao leme do Executivo americano.

Mas não podíamos ter já uma preview daquilo que eles concretamente planeavam fazer? Sei lá, por exemplo saber quem é que vão propor para a Corte Suprema. Ou qual a posição sobre os direitos de pesquisa petrolífera no Alaska.

Esta redução das campanhas a discussões sobre políticos em vez de politicas faz parte da estratégia da elegibilidade que tem sido um “drive” da política americana. A haver debate de ideias ele existe nas primárias dos partidos mas o candidato que sai destas é o mais “non committal” possível em vez de ser um honesto e militante “flag bearer”. É uma técnica que evita grandes derrotas mas inibe grandes vitórias.

Veja-se o tamanho das maiorias de eleições verdadeiramente politizadas:
• LBJ ganhou por mais de 20% a Goldwater.
• Nixon idem a Humphrey.
• Reagan ganhou por só por 8% a Carter mas fez uns impressionantes 18% a mais que Mondale.
Foram Presidentes fortes que tinham mandatos claros. Claros quer pelo tamanho da sua maioria quer porque desde o inicio se sabia aquilo que representavam. Criaram ódios e amores mas deixaram marca. O Vietnam (LBJ, Nixon), as relações com a China (Nixon), o abandono do padrão ouro (Nixon), Medicare e Medicaid (LBJ), etc.

E agora o inverso:
• Carter ganhou a Ford por 2%.
• Clinton a Bush Pai por 5% e Doyle por 8% (e aqui ele era o Presidente em cargo).
• George W. Bush ganhou esta 3ª feira por cerca de 3% a John Kerry.

Se qualquer deles (Carter, Clinton ou Bush) ficar para a História será pelas razões erradas (Clinton e o impeachment) ou externas (Bush e o ataque de 9/11, pelo menos a avaliar pelo 1º mandato que do futuro só sabe quem lá esteve) e não pelo seu pensamento original ou “grand vision for América”.

E, sem falar de eleições presidenciais mas continuando a falar da América, porque não relembrar Newt? É verdade que o seu Contracto foi uma montanha que pariu um rato mas desde Reagan que ninguém tinha tido tal impacto no pensamento do GOP. E ele teve só 2 anos, seria seguramente diferente se tivesse um mandato de 4 ou de 8. Pessoalmene digo "Graças a Deus e à Democracia!" mas a verdade é que ele era um politico com impacto e que fez as suas campanhas com posições fortes e tomando riscos.

Mesmo ao risco de perder é preciso não deixar a Política afastar-se da política. Ao risco de se ter mandatos pouco expressivos e se dar só pequenos passos. E se é verdade que vale mais dar pequenos passos na boa direcção que grandes nas más direcções é também verdade que é preciso ter confiança no bom senso do eleitorado e acreditar na justeza dos resultados do sufrágio. Isto se somos crentes na Democracia.

sexta-feira, novembro 05, 2004

 

Eleicoes americanas 4

As próximas eleições presidenciais americanas apresentam-se desde já com uma interessante característica. O actual VP eleito não tem perfil para se candidatar ao cargo do seu chefe. Nem pela imagem politica (aparece muito como um manipulador que trabalha nas sombras), pelos esqueletos no armário (a Halliburton não é pacifica mesmo para alguns políticos conservadores), pelos seus problemas de saúde (é um cardíaco) ou ainda pela sua personalidade (uma vez mandou f***r um oponente politico que o irritava).

A partir das eleições de 2006, se não antes, vamos assistir a interessantes movimentações dentro do GOP pela ausência de uma pole position natural.

Isto porque eu não acredito num possível make over de Dick Cheney.

Aceitam-se apostas sobre quem se candidata nas primarias do Partido de Lincoln. John McCain certamente. Jebb Bush, para cimentar a dinastia? O actual Secretario de Estado? E se for uma senhora? Libby Doyle ou Condolezza Rice perfilam-se como opções. Christine Todd Witman se o partido virar ao centro. A ver vamos…


quinta-feira, novembro 04, 2004

 

Eleicoes americanas 3

Numa eleição uninominal tão importante como o candidato em que se vota é aquele em que não se quer votar.

Desde que as primarias desenharam o cenário final (George W. Bush vs. John F. Kerry) que a coisa perdeu muito interesse. Isto porque qualquer deles é um candidato de compromisso. Há gente muito mais radical em cada um dos lados. Ou, pelo menos com ideias mais radicais. John McCain e Howard Dean por exemplo. E essa gente seria muito mais interessante porque viria trazer para o debate qualquer coisa de diferente. Repito-me: qualquer coisa de radical.

Kerry é um moderado no seu partido. Mais à sua Esquerda estão (ou pelo menos, a mim parecem-me) Howard Dean, Al Gore, Hillary Rodham Clinton ou Ted Kennedy. Isto para citar só alguns dos ex-candidatos ou potenciais futuros e já para não falar de personalidades “folclóricas” como Al Sharpton que não pode, em toda a verdade, ser considerado um sério candidato ou, sequer, um candidato sério. Não por causas étnicas (se bem que isso fosse um potencial handicap) mas, e principalmente, pela sua atitude. O mesmo Kerry é também mais fácil de “fazer passar” que Joe Lieberman que está (me parece) à sua Direita.

George W. Bush dificilmente parece um moderado. Mas ele é o incumbente. Há 4 anos ele foi escolhido entre outras opções que seriam bem mais polémicas como a actual Senadora Doyle, o Embaixador Alan Keyes, o então Senador e hoje Secretario da Justiça Ashcroft, o Senador McCain, Gary Bauer ou Pat Buchanan. Os 4 anos do seu primeiro mandato foram bastante divisivos, mas George W. Bush chegou à Casa Branca com a fama de ter feito uma politica “bi partisan” durante o seu governorado texano, assegurando, e augurando, uma presidência “as a unifier not a divider”.

Qualquer dos candidatos foi escolhido (Kerry em 2004, Bush Jr. em 1999) pelo seu Partido como o mais aceitável de entre o lote de concorrentes às primárias. Não tanto que representem a “alma” dos seus Partidos ou que sejam líderes no campo das ideias e convicções. São tão simplesmente e apenas “o melhor candidato” para ganhar.

Podemos argumentar que um Partido é um conjunto heterogéneo de pessoas que não pensam em uníssono sobre 100% dos assuntos. Para mais num sistema bipolarizado como o norte-americano onde os dois maiores, e virtualmente únicos Partidos, tendem a ser a “casa mãe” da Esquerda e da Direita. Que dentro destas grandes tendas se debatem e degladiam varias correntes e que o seu porta bandeira deve ser “middle of the road” e não um extremista engajado com uma facção. Para evitar alienar dentro e, sobretudo, fora.

É um argumento que colhe mas não explica tudo. Creio a “elegibilidade” um factor importante nas escolhas dos Partidos norte americanos.

É assim que se escolhem os candidatos na mais importante democracia do Mundo.

E não só.

quarta-feira, novembro 03, 2004

 

Eleicoes americanas 2

Há alguns anos, um amigo meu disse que “A América não é uma democracia, é uma ditadura de juízes”. De juízes nomeados, não eleitos, acrescentariam alguns dos mais conservadores.

Descontando um certo exagero da frase, a verdade é que os 9 juízes da Corte Suprema detém um poder que é quase incontestado. Como Guardiães de uma Constituição minimalista (7 artigos e 27 emendas) muitas vezes são os seus acórdãos que fazem a Lei.

Algumas das decisões mais célebres da Corte Suprema definiram não só o que se passa nas salas dos tribunais mas também a vida do dia à dia. Para citar só alguns exemplos: Roe vs. Wade (1973, que legalizou o aborto), Miranda vs. Arizona (1966, que instituiu a obrigatoriedade da leitura dos direitos dos detidos e está na origem da celebre lengalenga “You have the right to remain silent. You have the right to have an attorney …” que nos habituamos a ouvir desde a Balada de Hill Street), Brown vs. Board of Education of Topeka (1954, que iniciou o processo de desegregação racial no ensino do Sul).

A média de idades do Supremo Tribunal é de 71 anos. Dois dos seus membros já passaram dos 80 anos. O seu Presidente, Chief Justice William Reenquist, foi nomeado há mais de 30 anos por Richard Milhouse Nixon e, por razões de saúde, já indicou que pretende ser substituído.

É com um Congresso controlado pelos Republicanos (os Juízes da Corte Suprema devem ser confirmados pelo Senado) que G.W. Bush se vai encontrar na condição de nomear os próximos membros do Supremo Tribunal.

Fiel às suas publicitadas convicções (GWB pode ser acusado de muita coisa, mas não é um hipócrita) o Presidente prepara-se para fazer as próximas nomeações (2, 3, mais?) escolhendo magistrados que, não podemos esperar outra coisa, devem seguramente ser bastante conservadores.

Salvo algum novo desastre como 9/11 ou o Iraque, a principal herança desta 3ª feira ainda pode vir a ser uma Corte Suprema ultra conservadora que marcará a agenda dos avanços e retrocessos nos direitos cívicos para as próximas décadas.

As guerras culturais estão longe de estarem terminadas.

terça-feira, novembro 02, 2004

 

Eleicoes americanas 1

A hora em que escrevo isto (21H20) os americanos ainda estão a votar. Isto e´os poucos que se incomodam a exercer o seu direito civico e cumprir o seu dever republicano.

No entanto, as primeiras indicacoes, parecem ser de um aumento da participacao dos eleitores. Independentemente de qual dos candidatos for beneficiado por este inusitado afluxo de votantes isto nao pode deixar de ser considerado uma boa noticia.

segunda-feira, novembro 01, 2004

 

Comecar um blog

Decidi comerçar um blog hoje. Não só, mas também, por causa das eleições americanas. Para quem se interessa por Politica, o ritmo das eleições presidenciais americanas é daqueles que marca a agenda.

Os EE.UU. são o mais importante País do Mundo. Aquilo que lá se passa interessa a todos porque todos somos afectados. Mas também porque, em termos absolutos, é interessante.

Eu sou um grande fan da América. Sempre fui e, depois de a conhecer um pouco melhor, ainda mais fiquei. Uma das mais interessantes caracterisitcas desse grande País é a sua Politica. Vibrante. Séria (sim sim séria não estou a fazer humor). Inteligente (continuo a falar a sério).

Por isso as eleições americanas são um bom pretexto para me lançar a escrever um blogue. Que vai falar muito de Politica.

Admitindo que eu tenho jeito para manter um blogue...

This page is powered by Blogger. Isn't yours?